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18-12-2013

Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro - António Francisco dos Santos.


Tem rosto pequenino, olho vivo, cabelo preto e farto, como todas as crianças da sua etnia, aquele menino, que uma funcionária da ...

Tem rosto pequenino, olho vivo, cabelo preto e farto, como todas as crianças da sua etnia, aquele menino, que uma funcionária da Instituição aconchegava ternamente ao seu regaço de mãe.

Foi a última criança a chegar nesta noite para a oração inicial que fizemos, antes da ceia de convívio, à volta da mesa recheada e decorada a gosto para a festa antecipada de Natal. O Abraão, assim se chama este menino lindo, frágil e pequenino, tem 16 dias apenas, tantos quantos este advento. O Abraão é a criança mais nova daquela instituição da Igreja onde, semana a semana ou mês a mês, chegam crianças, que não tiveram lugar em berços de família ou casa em hospedarias da cidade.

Sabemos que a mãe do Abraão teve de recorrer a uma instituição porque foi abandonada pelo marido e não consegue sozinha cuidar do filho mais velho, que é deficiente, e do mais pequenino, que agora nasceu. Por isso desprendeu-se do mais saudável para cuidar do mais doente. São assim as nossas mães! Sempre mais próximas dos filhos que mais precisam! Abraão é nome bíblico de pai dos crentes, de homem de amarras soltas, de arameu errante, de peregrino decidido a seguir o sonho de Deus e a fazer caminhada rumo à terra por Deus prometida. Abraão é raiz de um povo escolhido, primeiro habitante de uma terra abençoada e tronco fecundo onde se enxertam muitas gerações de gente feliz.

Num tempo de povos sem pátria, de nações sem paz, de pessoas sem-abrigo, de lares sem amor, de famílias sem trabalho, de bocas famintas, de emigrantes dispersos pelo mundo e tantas vezes rejeitados e excluídos, de suicídios a aumentar, de violência a crescer e de desalento a bater à porta de tanta gente precisamos ainda mais do Natal de Jesus.

Temos necessidade do Natal para que haja, ao jeito de Maria de Nazaré, regaços fecundos de mães onde a vida se receba, famílias onde a ternura, a bondade e a alegria se fortaleçam e comunidades cristãs onde as bem-aventuranças do evangelho se vivam em cada passo do caminho. O melhor presépio de Jesus será sempre o coração dos pobres em espírito, dos puros, dos misericordiosos, dos pacíficos, dos que fazem das bem-aventuranças critério de vida e se sentem tocados de perto pelo amor do nosso bom Deus.

O advento tem este ano para a Igreja de Aveiro um sentido novo, porque iniciado em tempo de Missão Jubilar e vivido em plena Caminhada das bem-aventuranças. Este advento quer ser caminho iluminado pela luz da fé, pela força da esperança e pela presença do amor de Deus que se faz quotidiano da vida para milhares de pessoas e de famílias das cento e uma paróquias da nossa Diocese que se sentem mais próximas, mais unidas e mais felizes e se decidem a sonhar uma Igreja renovada e a edificar um mundo melhor. Por isso, este advento do Natal é, para a Igreja, advento do tempo futuro, que desde já queremos antecipar e construir. No culminar da caminhada das bem-aventuranças, o Natal deve fazer-nos sentir, depois deste belo e bom caminho percorrido ao longo da Missão Jubilar, que são felizes os que acreditam que Jesus está connosco para fazer de cada um de nós presente de Deus para os outros.

A Igreja tem na mão essa grande missão: fazer do mundo a sua casa, do amor a sua arma, do tempo a sua hora, do chão da nossa terra a pátria das bem-aventuranças para ser presépio onde Jesus se acolhe e daí partir para anunciar a alegria do evangelho.

E tudo isto só se consegue se fizermos dos presépios humanos berços deste dom divino, que é Jesus, e se no rosto frágil do menino nascido na gruta de Belém descobrirmos o rosto de Deus que nos ama, nos envia o Seu Filho e nos chama a ser discípulos, missionários e mensageiros em Seu nome. Nesse sentido e com esse espírito partilharei a Ceia de Consoada com os sem-abrigo da Cidade e de junto deles partirei para a Eucaristia de Natal na Sé.

A Igreja aprendeu com Francisco de Assis a fazer presépios para Jesus e reaprende com o Papa Francisco a ser casa de bênção e de ternura para os que sofrem e a abrir a mesa de família e de refeição aos pobres.

Celebrar o Natal é, assim, para cada um de nós, para cada família e para cada comunidade certeza de vida nova recebida de Deus, anúncio da alegria do evangelho e apelo feliz a viver as bem-aventuranças do reino.

Votos de santo Natal e de abençoado Ano de 2014.


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