Pela primeira vez no seu historial, a Associação Recreativa e Cultural de Vilarinho do Bairro (ARCVB) subiu ao patamar mais alto do futsal distrital aveirense, a 1.ª Divisão. A equipa de Juniores, que competiu pela primeira vez numa competição federada, ficou em 7.º lugar na fase dos últimos e, para o seu treinador, Francisco Machado, a época foi positiva. André Maia e Hugo Ruivo fizeram parte do plantel sénior e para a próxima época, o objectivo é tentar que o grupo se mantenha, melhorar os resultados e passar à fase de grupos dos primeiros.
Treinador. A época foi projectada para a subida de divisão. Por vezes quando se aposta não se consegue alcançar esse objectivo. O projecto começou a ser desenhado em Abril do ano passado. Havia uma grande défice de qualidade do plantel anterior onde apenas ficaram dois jogadores, o Rafael e Zé Luís, juntando-se Joel, guarda-redes da casa, mas que não tinha terminado a época anterior. Os restantes membros do plantel foram escolhidos de forma criteriosa pelo treinador Rui Veríssimo. A maior parte dos atletas escolhidos, todos eles com larga experiência nos distritais de Coimbra e também na 3.ª Divisão Nacional, foram ex-colegas de equipa, ainda que em clubes diferentes, do treinador. Todos eles mereciam a confiança de Rui Veríssimo e, relativamente ao segredo, o técnico afirmou que "esteve na conjugação de todas estas forças, a experiência, a amizade e a juventude. Só depois veio o trabalho, o sacrifício e a habilidade dos jogadores". Para Hélder Gonçalves, presidente da ARCVB, a base do sucesso esteve no treinador: "A grande diferença dos anos anteriores foi encontrar um treinador com conhecimento da função. Soube rodear-se de jogadores que, à partida, lhe davam garantias de um bom trabalho. Pediu-me dois jogadores, Paulo Fontes e Miguel Simão, que foram referências para os outros. Houve organização, disciplina, tivemos um departamento médico, com a Susana Lopes e Maria Lopes, que contribuiram também para o sucesso."
Hélder Gonçalves reforçou que o treinador foi peça importante na subida de divisão: "Rui Veríssimo foi como um amigo. Tem carisma e a união de grupo deve-se muito a ele. Apostou muito no trabalho de campo, a pré-época começou muito cedo e os jogadores conseguiram assimilar muito bem as suas ideias".
O presidente comentou que o grande obreiro da subida foi o treinador. Rui Veríssimo fez o seguinte comentário: "Tanto no sucesso como no insucesso, a responsabilidade deve ser distribuída por todos os intervenientes. Eu tive a meu cargo a tarefa de juntar um grupo de homens inteligentes que, para além de saberem respeitar o meu trabalho e as minhas ideias no domínio do futsal, soubessem sobretudo respeitar a instituição e as pessoas que a lideram ou que para ela trabalham. A direcção teve a ser cargo reunir as melhores condições para que o nosso trabalho fosse facilitado. Os atletas fizeram o resto, assiduidade, empenho, união e muita qualidade, são os maiores", realçando ainda a competência do adjunto Zé Luís, que foi importante na construção do grupo, Francisco Mendes e Paulo Fontes, que na sua opinião, "foi mais do que um jogador".
A ARCVB falhou a luta pelo título para o Atlético do Luso. Esse nunca foi um objectivo primordial, mas perdê-lo a duas jornadas do fim deixa sempre amargo de boca. "Os nossos objectivos foram definidos logo no início da época, e nunca passaram pela conquista do título. Fui eu quem os definiu, e não foi por falta de ambição que não tracei a meta no título. Durante toda a época, nenhum jogador ou dirigente de Vilarinho me ouviu dizer a palavra título", disse Rui Veríssimo.
Ainda sobre este assunto, o técnico adiantou que "o plantel tinha alguns desequilíbiros, era demasiado jovem para atacarmos o título. Seriam, no mínimo, necessários mais dois jogadores com, pelo menos, a experiência do Luís Santos ou do João Moura. Por outro lado, o plantel era demasiado curto, mais cedo ou mais tarde as lesões ou castigos viriam a aparecer, e isso acabou por suceder", concluindo que "conseguimos segurar o 1.º lugar por largas jornadas e não escondo a frustração de perdê-lo a duas jornadas do fim, sobretudo nas circunstâncias em que isso aconteceu. Foi pena que, nesse dia, nenhum responsável da AF Aveiro tivesse passado pela Lourizela. Certamente que também ele iria ficar incomodado".
Futuro. Hélder Gonçalves confessou-nos que Rui Veríssimo iria continuar este projecto na 1.ª Divisão e que apenas pretende três reforços para realizar um campeonato tranquilo. O treinador deixou a sua visão sobre o assunto: "A minha continuidade no clube ainda não é um dado adquirido. Na minha opinião, para que o projecto se mantenha vencedor, será necessário manter este grupo de trabalho, que foi de uma entrega fantástica, e reforçá-lo em qualidade por forma a que a nossa estreia na 1.ª Divisão seja no mínimo estável, para depois atacar voos mais altos. Confrontámo-nos ao longo da época com algumas equipas da 1.ª Divisão e não tivemos dificuldades em jogar de igual para igual. Neste momento, o plantel actual tem qualidade suficiente para disputar a divisão acima, com os três reforços que pedi estou certo que afastaríamos qualquer hipotético fantasma de descida." Rui Veríssimo entende ainda que, se a direcção conseguir manter no clube "os meus rapazes, é certo que eu também ficarei, caso contrário certamente que haverá quem queira continuar, ou reformular, a obra. Acordámos que as coisas deveriam estar resolvidas até final de Junho, estou certo que eles irão mover todos os esforços para que o projecto siga para a frente".
Voltando à conversa com Hélder Gonçalves, se a freguesia, sócios, simpatizantes estiveram à altura do feito do clube, respondeu que "as pessoas não têm aderido. As que apoiaram foram sempre as mesmas, mrecíamos um pouco mais de apoio".
Rui Veríssimo intrometeu-se na conversa e diria que "os sócios e os habitantes de Vilarinho do Bairro, mais cedo ou mais tarde, vão render-se ao futsal. Para já basta a nossa equipa júnior para animar a festa".
Sobre os apoios, o presidente agradeceu à Câmara Municipal de Anadia e tem esperança que, na próxima época, como os encargos irão aumentar, "a autarquia dê outro tipo de apoio. Sem o seu apoio não teremos grandes hipóteses de prosseguir o trabalho que encetámos há um ano. Litério Marques é importante neste projecto. Somos o único clube de futsal no concelho de Anadia e apostamos forte na formação".
A direcção teve de fazer um orçamento rectificativo, pois o inicial disparou. Os dirigentes têm contado com o apoio do aluguer do pavilhão à Escola C+S de Vilarinho do Bairro, dos grupos de amigos que quase todos os dias ocupam o pavilhão, das receitas de exploração do bar e de várias empresas.
Hélder Gonçalves confessou que a época não deu prejuízo. "Valeu-nos a almofada do ano anterior. Não posso esquecer o trabalho dos sete elementos da direcção que acabou por ver o seu esforço recompensado com a subida de divisão. É bom que as pessoas saibam que não andamos aqui por interesse, mas sim por gosto, por carolice e para que Vilarinho do Bairro tenha uma actividade desportiva."
Hélder Gonçalves falou também da equipa de juniores, que classificou de "surpresa", e do trabalho encetado por Francisco Machado.
Para a nova época, o líder da equipa de futsal de Vilarinho do Bairro não tem dúvidas de que, se manter o treinador, como é o seu desejo, toda a estrutura e mais três reforços, o clube tem todas as condições de fazer um campeonato tranquilo.
Manuel Zappa
zappa@jb.pt