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06-05-2009

Gripe de que se fala não se transmite pelo consumo


Gripe suína não consta da ementa

O movimento na EN1 e as filas que se vão formando à porta dos restaurantes não deixam dúvidas de que estamos na hora certa para reconfortar o estômago. Passam poucos minutos do meio-dia, mas na Mealhada não é difícil encontrar quem vá já petiscando enquanto aguarda pelo pedido.

Fazemos uma primeira paragem no restaurante Espelho d’Água. As mesas vão-se compondo, ao som da inconfundível trincha. Nancy Almeida, técnica de formação profissional, e Sandra Regala, consultora e formadora na área de Recursos Humanos, param a meio caminho entre Aveiro e Coimbra para almoçar. Não precisam de ver a lista, sabem ao que vêm. "É leitão para as duas."

No ecrã de televisão mais próximo, os telejornais vão discorrendo minutos a fio das mais recentes informações sobre a gripe suína. Actualizam-se os números no México, identificam-se novos casos no resto do mundo; em Portugal, confirma-se o primeiro caso. À mesa, poucos interrompem a conversa para prestar atenção ao que ali se vai dizendo. Nancy Almeida e Sandra Regala fixam-se no ritual que se lhes regala os olhos. A travessa está pronta. Pergunto-lhes o que sabem sobre a gripe de que se fala. Nancy Almeida sabe "que se pode tornar rapidamente numa pandemia e que se transmite facilmente". "Mas não pelo consumo de carne de porco", adianta de imediato a colega.

É seguro que continuem a parar por estas bandas para apreciar um bom leitão à Bairrada. "Associa-se a gripe aos suínos, devido à denominação, mas não vamos deixar de comer", afirma a técnica de formação profissional. "Só se for pelos índices de colesterol", acrescenta divertida Sandra Regala.

Como estas clientes de passagem, outros vão mantendo a sala composta. Mais de 80 por cento da ocupação tem sobre a mesa uma travessa de leitão à Bairrada, acompanhado de batata frita, laranja e salada. "Não houve qualquer quebra no consumo, nem ninguém se mostrou receoso pela gripe suína", garante o gerente do Espelho d’Água, José Carlos Pereira. "É seguro comer leitão. Não há nada que nos faça pensar o contrário, aliás, as informações que têm passado dizem isso mesmo, que não se transmite pelo consumo."

Isso mesmo é confirmado pelo veterinário municipal de Anadia. "O consumo de carne de porco é perfeitamente seguro. O vírus é destrutível a uma temperatura média de 70 graus, ou seja, mesmo que aparecesse um animal portador do vírus, qualquer tratamento da carne a esta temperatura o destruiria", sustenta Carlos Gonçalves. Apenas a designação da gripe poderia gerar alguma confusão, talvez por isso a Organização Mundial de Saúde tenha decidido alterar o seu nome para gripe A. "Este vírus, o H1N1, é um vírus que originariamente está presente nos suínos, sem grande tipo de constrangimento. A questão é que o vírus adquiriu capacidade de se transmitir entre humanos, e é aí que reside o problema", explica o veterinário, deixando um conselho: "qualquer desconfiança que haja em termos gripais, associando aos habituais sintomas de tosse, espirros e febre, alguma diarreia e vómitos, a pessoa deve contactar a Linha de Saúde 24. Isto é importante principalmente para as pessoas que regressem de algum país de risco."

Continuamos a nossa viagem. Próxima paragem: restaurante Casa Queiroz, Avelãs de Caminho, Anadia. Também aqui o leitão vai sendo o prato principal. O receio pela gripe A está para lá do ecrã de televisão. "Se estivéssemos preocupados, não vínhamos para aqui comer leitão", adianta o gaiense António Silva, no intervalo de uma suculenta costela de leitão à Bairrada. "Eu gosto muito de leitão e só deixava de o comer por uma razão pelo preço", graceja. Acompanha-o Luís Silva, também ele de Vila Nova de Gaia. Está descansado porque, pelo que tem ouvido, "o vírus não se transmite pelo consumo". Mas reconhece que "as pessoas estão um pouco assustadas" e que "lá que isto nos faz pensar, lá isso faz".

Preocupação é coisa que não se espelha no rosto de Rui Queiroz. Sócio do restaurante, adianta que "da parte dos fornecedores e dos matadouros não foi dado nenhum alerta". E o leitão à Bairrada continua a ser o principal pedido dos clientes.

Dali seguimos para Aguada de Cima, mais propriamente para a Casa Vidal, nas Almas da Areosa. O responsável, José Vidal, assoma da cozinha para nos falar. Pergunto como está o negócio do leitão desde que se fala na gripe suína. "Perfeitamente normal. Os clientes não questionam, nem se mostram preocupados. Nem há razões para tal, porque o vírus não se transmite pelo consumo de carne de porco", explica, como outros já o fizeram.

Na retaguarda ouço o som ritmado da trincha e deixo-me ludibriar pelo aroma que me provoca água na boca. "É servida?" Bom apetite!

Oriana Pataco
oriana@jb.pt


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