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05-06-2008

São histórias para dar e vender


Os homens que fazem a marcação da corrida

O pelotão de qualquer prova velocipédica, tirando os ciclistas, é composto por muita gente anónima. Entre esse núcleo está a equipa de sinalização, que faz a marcação e indicação do percurso, como a colocação de setas, quilometragem, metas volantes, etc.

Enquanto o pelotão e a restante organização dormem, um grupo de homens anda em plena noite a marcar o percurso. Fá-lo depois do sol se pôr por causa do trânsito e só vêem os ciclistas na chegada à meta.

Joaquim Silva, Paulo Cardoso, António Mesquita e Paulo Calado são os rostos deste trabalho invisível, eles que têm como missão apresentar a melhor sinalização no 30º Grande Prémio Abimota.

Uma vida. Metem-se à estrada em duas carrinhas e o seu trabalho começa por volta das 22h e só termina entre as 5/6h da manhã. Só para a primeira etapa, que liga Anadia à Praia da Torreia, aquele quarteto vai demorar a sinalizar o percurso dez horas. É obra.

E, pela calada da noite, há histórias que marcam a vida destes homens.

Joaquim Silva, chefe de equipa, já fez 12 voltas a Portugal em Bicicleta. Quatro como estafeta, três onde tinha como função levar os jornalistas de mota para tirarem fotografias e as restantes como chefe da caravana publicitária.

Nunca falhou um Grande Prémio Abimota. "Uma vida", confessa.

No seu álbum de recordações, Joaquim Silva contou-nos que, num grande prémio entre Águeda e o Algarve, na etapa entre Santarém e Grândola, depois de marcarem o percurso, "os meninos da noite", na zona de Setúbal, apanharam as setas, e o pelotão, sem saber, entrou na portagem da Auto-estrada, obrigando a equipa de sinalização a repor a ordem e o pelotão a regressar ao ponto do engano.

Também numa edição em que o Abimota percorreu as estradas do Algarve, Joaquim Silva e a sua equipa, perto de Odemira, colocaram uma meta de pano. De um lado da estrada, um poste, do outro, um pinheiro. Um dos elementos subiu ao pinheiro para esticar o cordão, mas não desceu como previsto. "Somos uma equipa de quatro elementos e andamos em duas viaturas. Uma delas tinha ido sinalizar com dois homens o quilómetro 1 e eu, com a pressa de acabar o serviço, deixei o meu colega em cima do pinheiro", disse-nos Joaquim Silva com uma sonora gargalhada, para concluir que "andámos mais de 20 quilómetros e só depois é que demos por falta dele". E como naquele tempo não havia telemóvel nem outro tipo de comunicações, a história depressa foi difundida por todo o pelotão.

Paulo Cardoso não se esquece do peso para fazer descer e subir o fio. Perdeu o martelo e teve que andar de gatas pelo meio do milho e, com a pressa de fazer o serviço, quantas vezes se esqueceu do material e teve que fazer marcha-atrás no percurso. "É duro, mas acaba por ser divertido", confessa.

Os mosquitos. História hilariante tem António Mesquita. Montemor-o-Velho tem sido paragem obrigatória dos grandes prémios Abimota nos últimos anos. "Num restaurante dali sou conhecido pelo zangado. É que cada vez que lá vou sou mordido pelos mosquitos". Ao lado, Paulo Cardoso diz que "ele anda amuado até à hora do almoço e, por vezes, diz que se vem embora, que não está para aturar isto".

Nazaré e Espinho. Outra história passou-se na Nazaré. Chegaram àquela estância balnear por volta das 6h da manhã e foram deitar-se na berma do passeio que dá acesso à praia. Na aurora, o pessoal que ia para a praia deparou-se com o grupo a ressonar e alguém ripostou: "Olha para esta desgraça. Eles são homens da noite, uns bêbados e uns drogados", contaram, em uníssono, com muitas gargalhadas pelo meio, os nossos entrevistados.

Em Espinho, a equipa chegou às 4h da manhã e montou arraiais na feira. Paulo Cardoso, sem dar conta, meteu a carrinha dentro do espaço da mesma. Passou pelas brasas e, depois, viu todo aquele espaço invadido pelos comerciantes. "Comecei a ouvir umas marteladas e era o pessoal a montar as tendas e barracas. Vi-me negro para tirar a carrinha."

No ano passado, em Terras de Bouro, numa residencial, a equipa de sinalização esteve numa sardinhada. O melhor da história não foram as sardinhas, mas sim um padre que por lá apareceu sem ser convidado e começou a contar anedotas.

Paulo Calado é o elemento que tem menos vivência nestas andanças. Gosta, porque é amante de ciclismo e praticante de BTT.

Outras histórias há, algumas mais apimentadas, com direito a bolinha no canto direito da página e que, por isso, não revelamos aqui...

Manuel Zappa

zappa@jb.pt


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