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19-05-2006

Estudo foi publicado na Nature


Docente da UA descobre um novo sistema solar - o Tridente de Neptuno

Alexandre Morgado Correia, docente do Departamento de Física na Universidade de Aveiro, em colaboração com uma equipa de investigadores europeus, publicou, ontem quinta-feira, 18 de Maio, um novo artigo na NATURE (uma das mais prestigiadas revista internacionais de ciência e tecnologia), sobre a descoberta de um novo sistema solar: o «tridente de Neptuno». divulga o jornal online http://www.ua.pt/uaonline da Universidade de Aveiro.

A equipa europeia de astrónomos, na qual está integrado o docente Alexandre Correia, anuncia a descoberta de um novo sistema planetário constituído por três planetas semelhantes a Neptuno.

Este sistema planetário parece ainda possuir uma cintura de asteróides, tornando-o assim um dos mais parecidos com o nosso Sistema Solar.

Além disso, à semelhança da Terra, o terceiro planeta do novo sistema encontra-se igualmente na zona habitável.

Esta nova descoberta só foi possível devido à utilização do espectrógrafo «HARPS», o equipamento mais rigoroso actualmente existente para a detecção de planetas, e que está instalado num dos telescópios do ESO (European Southern Observatory), organização à qual Portugal pertence.

Na última década os astrofísicos têm descoberto dezenas de planetas a orbitar outras estrelas semelhantes ao Sol. Na grande maioria dos casos, os planetas descobertos são gigantes gasosos, semelhantes a Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar (com ~318 vezes a massa da Terra).

No entanto, o recente desenvolvimento das técnicas de procura de planetas extra-solares tem permitido a descoberta de alguns planetas com massa entre 5 e 20 vezes a massa da Terra, comparáveis à massa de Neptuno (~17 vezes a massa da Terra).

Agora, é anunciada a primeira descoberta de um sistema composto por três planetas com massas semelhantes à de Neptuno, todos eles em órbitas quase circulares. Estes planetas orbitam a estrela HD69830, uma estrela próxima do Sol (~41 anos-luz), e efectuam uma volta a esta em cada 8.67, 31.6 e 197 dias, respectivamente.

A descoberta foi feita recorrendo ao método das velocidades radiais (ver nota), e só foi possível graças ao rigor do espectrógrafo HARPS, acoplado ao telescópio de 3.6 m do Observatório de La Silla, no Chile, que pertence ao ESO (European Southern Observatory).

Este equipamento permite a medição das velocidades radiais com uma precisão melhor do que 1 m/s (3.6 km/h, ou seja, a velocidade de uma pessoa a caminhar). Segundo o Nuno Cardoso Santos (CAAUL/GCE), «a enorme precisão do HARPS permitiu-nos detectar o movimento da estrela HD69830 induzido pela gravidade dos 3 planetas que a orbitam, apesar destes terem uma massa de apenas 10.2, 11.8 e 18.1 vezes a massa da Terra, respectivamente».

Uma série de simulações numéricas, realizadas pelo Prof. Alexandre Correia (Universidade de Aveiro), um dos co-autores do artigo, mostram que o sistema é extremamente estável dinamicamente.

Observações anteriormente realizadas com o telescópio espacial Spitzer tinham mostrado que esta estrela emite muito nos infra-vermelhos. Estas observações sugerem que a emissão é proveniente de poeira em torno da estrela, que emite a uma temperatura de cerca de 130 graus centígrados (400 graus Kelvin).

Os estudos dinâmicos agora realizados sugerem que esta emissão seja emitida de uma cintura de asteróides localizada entre as órbitas do segundo e terceiro planeta do sistema, ou numa órbita ligeiramente mais distante. A colisão entre os asteróides desta cintura será responsável pela existência da poeira detectada.

Mais ainda, os modelos teóricos parecem mostrar que o planeta que se encontra mais próximo da estrela será constituído sobretudo por rochas, enquanto que o segundo planeta deve ser rochoso e possuir uma extensa atmosfera.

O terceiro planeta do sistema, e o mais afastado da estrela, parece ser constituído por rochas e gelos, rodeados por uma espessa atmosfera. Este último é o primeiro planeta descoberto com uma massa semelhante à de Neptuno e que se encontra simultaneamente na zona habitável do sistema, isto é, a zona com condições propícias à existência de vida. Contudo, devido à sua massa relativamente elevada, é improvável a existência de água no estado líquido.

Equipa responsável pela descoberta:
- Christophe Lovis, Michel Mayor, Francesco Pepe, Didier Queloz, (Observatoire de Genève, Suiça)
- Alexandre C. M. Correia (Departamento de Física da Universidade de Aveiro)
- Nuno Cardoso Santos (Centro de Astronomia e Astrofísica de Universidade Centro de Geofísica de Évora)
- Yann Alibert, Willy Benz, Christoph Mordasini (Physikalishes Institut Bern, Suiça)
- François Bouchy (Observatoire de Haute-Provence e Institut d´Astrophysique França)
- Jacques Laskar (Observatoire de Paris, França)
- Jean-Loup Bertaux (Service D´Aéronomie du CNRS, França)
- Jean-Pierre Sivan (Laboratoire d´Astrophysique de Marseille, França)

Professor Auxiliar Convidado do Departamento de Física da Universidade de Aveiro, Alexandre Carlos Morgado Correia, 28 anos, licenciou-se em Física pela Universidade de Lisboa, concluiu Doutoramento pela Universidade de Paris VII, e tem centrado o seu trabalho de investigação em torno da evolução a longo termo da rotação de Vénus e dos planetas telúricos.

Já em Junho de 2004 viu um artigo seu ser publicado na mesma Revista. Assinado em conjunto com o investigador Jacques Laskar, do Observatoire de Paris, o artigo demonstrava que quando se tem em conta o movimento caótico da órbita de Mercúrio, a sua captura na ressonância spin-órbita 3/2 é, afinal, a rotação final mais provável. Umaexplicação que permaneceu sem resposta satisfatória durante quase 40 anos e à qual este dosi investigadores conseguiram dar resposta.


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