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28-03-2006

O estudo baseia-se em 551 entrevistas a jovens estudantes


14% dos jovens tem excesso de peso, maioria não se trata

Catorze por cento dos jovens portugueses entre 14 e 17 anos têm excesso de peso e a esmagadora maioria, 82 por cento, nada faz para inverter a tendência, indica um estudo hoje divulgado.

Realizado pela Associação Portuguesa de Ex-Obesos e Obesos de Portugal (Adexo), o estudo baseia-se em 551 entrevistas a jovens estudantes de ambos os sexos de Portugal continental, com idades entre 14 e 17 anos.

Os responsáveis pelo estudo concluíram que os jovens têm consciência de que o excesso de peso é um problema e até motivo de rejeição por outros jovens, ainda que só uma minoria dos que admitiram ter excesso de peso ou ser obeso esteja a fazer dieta ou exercício físico.

"Trata-se de uma situação preocupante, são jovens que vão entrar na idade adulta com um problema que vai ser cada vez mais difícil de resolver", disse à agência Lusa Helena Fonseca, pediatra responsável pela consulta de adolescentes no Hospital de Santa Maria.

Helena Fonseca considera que o inquérito reflecte a realidade portuguesa e apresenta resultados idênticos a outro realizado em 2002 pela Organização Mundial de Saúde.

O inquérito conclui que quer os adolescentes quer os pais têm, na maioria, ideias correctas sobre quais os alimentos mais saudáveis, embora esse conhecimento só parcialmente seja aplicado em comportamentos adequados.

Helena Fonseca salientou o facto de poucos jovens comerem diariamente fruta, legumes e leite, ao mesmo tempo que abusam de alimentos calóricos, como bolos e refrigerantes.

Segundo o estudo, a maioria dos jovens faz quatro refeições por dia, com 71 por cento dos jovens a dizerem que se alimentam no intervalo das refeições, embora por vezes com calorias em excesso.

A maioria dos jovens, 84 por cento, toma o pequeno-almoço todos os dias, quase sempre em casa (91 por cento), mas os 16 por cento que comem fora fazem-no habitualmente de forma pior, ingerindo mais calorias (bolos com creme, nomeadamente).

Resulta também do trabalho que 20 por cento dos jovens inquiridos não consomem leite habitualmente, algo também considerado preocupante por Helena Fonseca, já que se trata "de um período da vida em que se faz a construção do pico da massa óssea".

Preocupante ainda, acrescentou, é o facto de só 28 por cento dos jovens comerem vegetais diariamente, e 25 por cento dizerem que apenas o fazem uma vez por semana ou menos.

Além disso, um em cada quatro jovens consome pelo menos uma vez por dia bolos com creme, doces ou donuts, e um em cada cinco consome refrigerantes diariamente.

A grande maioria dos jovens (87 por cento) pratica exercício físico, sobretudo na escola (84 por cento), sendo também a maioria (88 por cento) da opinião de que o excesso de peso/obesidade é uma doença, ainda que, espontaneamente, cerca de 40 por cento não consigam indicar pelo menos uma consequência concreta para esta doença.

Nos jovens são os rapazes os que menos se preocupam com o corpo, com as raparigas a demonstrar menor satisfação com o seu corpo, em regra desejando ser mais magras.

Os números indicaram que 15 por cento dos rapazes e 12 por cento das raparigas têm, em função do peso e altura auto-reportados, excesso de peso /obesidade, ainda que ambos os sexos considerem que o excesso de peso impõe limitações no dia-a-dia e que leva mesmo a discriminações Helena Fonseca, com base nestes números, defende que seja privilegiada a área do desporto escolar, não entendendo que 13 por cento dos jovens, estudantes, não pratiquem exercício físico nem na escola.

Depois, concluiu, é necessário ainda "trabalhar a motivação" dos jovens, já que muitos, sobretudo rapazes, sendo gordos não se reconhecem como tal.

"O problema do gordo é que não se considera um doente", disse à agência Lusa o presidente da Adexo, Carlos Oliveira, acrescentando que é uma questão que não está apenas ligada aos jovens mas a toda a população.

Mais do que os números, disse também, a validade do estudo é apontar desvios alimentares, de exercício físico ou de aconselhamento, para assim poder lançar campanhas junto de escolas.

"Precisamos disso para chegar aos jovens e dizer: estão a ter problemas (de gordura) por estas razões", disse, concluindo que a associação vai tentar fazer campanhas de esclarecimento junto de escolas, a começar pela apresentação do estudo, hoje precisamente numa escola, o Liceu Camões, em Lisboa.


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