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18-01-2006

Daqui a dez anos, a Segurança Social entra em ruptura


Palavras (in)discretas - Roubo

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, afirmou. há dias, que, daqui a dez anos, a Segurança Social, entra em ruptura, o que equivale a dizer, preto no branco, que não há pensões para ninguém, se não forem tomadas medidas de sustentabilidade, ou serão dramaticamente reduzidas.

Um cenário detestável e fonte de mais pobreza.

Logo se gerou uma onda de justo pasmo e de pertinente indignação. Os que passaram uma vida a fazer descontos para a Segurança Social, portanto trabalhando de ombro cheio, onde está incluída a geração de todos os sacrifícios, a começar pela guerra, logo concluíram, com certa lógica: é um roubo, uma pulhice, uma fraude. Os mais novos atemorizam-se.

Não somos nós que os ousamos contrariar. Realmente!

O brado foi tão grande que o ministro do Trabalho e da Segurança Social se viu obrigado a vir acalmar os ânimos e as justas preocupações, não só dos pensionistas, mas também dos que estão no limiar da reforma, pondo água na fervura com o anúncio de um saldo positivo de 101 milhões de euros. Numa palavra: veio dourar a pílula... do dia seguinte.

Que não será bem assim, avançou ainda, porque medidas irão ser tomadas. À custa, claro, da pele de cada um: reformas com idade mais alta, talvez à porta da morte, novo cálculo das pensões - não serão os dez melhores dos últimos 15 anos, mas contas feitas sobre os descontos de toda uma carreira. Já se está mesmo a ver...reformas de miséria, que darão nova cassete a Jerónimo e motivos de espanto a Louçã.

Quando no governo ninguém se entende - um diz hoje uma coisa, amanhã, outro contradiz - como se há-de entender o país?

Vamos sempre de mal a pior. Sempre a descer em todos os rankings. Só somos bons onde deveríamos ser maus alunos.

Sabe-se, até lá fora, que, se o país está como está, a arrastar-se pobre e andrajoso pelas ruas da amargura, se deve principalmente aos governos que nos têm desgovernado, atribuindo sempre as culpas dos fracassos das políticas aos anteriores e a terceiros. Lavam sempre as mãos que ficam sempre sujas nas águas da praça pública.

As culpas de toda esta situação na Segurança Social terão que ser, no entanto, divididas: governos, os grandes culpados, e também um pouco o povo.

Os governos, quando abrem as portas aos desmandos e regabofe: gente feita inválida (normalmente os mais ricos), quando bem pode trabalhar; baixas fraudulentas sem controle; subsídios aos desempregados de longa duração - tantos que não dão um passo para arranjar trabalho, olho e beiço na têta do Estado; as reformas antecipadas, e sobretudo chorudas, de muitos que foram presidentes da república, deputados, presidentes de câmara e vereadores; o desemprego a subir, contrariando as promessas fáceis e enganadoras.

Mas o povo também não está isento de culpas. Vendo o regabofe nacional, a desorientação, a pouca credibilidade dos políticos, muitos (os xicos-espertos são uma perigosa fauna) aproveitam as mil e uma maneiras de viver à sombra do regime, enquanto a natalidade, como se fosse um crime, desce.

O país está envelhecido e gasto. Bate no fundo. Não há esperança de mudança de rumo. Anquilosou-se, vive de expedientes, empobrece todos os dias e, agora, nem o direito à reforma está assegurado.

Efectivamente, a ser assim, um roubo.
Uma pulhice.
Uma enorme fraude.
Do tamanho do Palácio de S. Bento.

Armor Pires Mota


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