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09-11-2005

Tio desmente ter disparado contra sobrinho


Oliveira do Bairro

Um homem, de 23 anos, residente em Sangalhos, Anadia, de etnia cigana, acusado da prática de um crime de homicídio por negligência por ter matado uma criança (sobrinha) e ferido duas outras, num acampamento de ciganos, em Oliveira do Bairro, disse, na penúltima quarta-feira, ao juiz do Tribunal de Oliveira do Bairro que estava inocente.

Em fuga

Os factos remontam à noite do dia 13 de Agosto de 2001, quando uma criança, de cinco anos, foi morta com um tiro de caçadeira e outras duas atingidas por chumbos. As suspeitas recaem no tio da criança que, naquele dia, se colocou em fuga e que só agora vai a julgamento por não ter residência fixa.

Segundo a acusação, J. Monteiro estava com os irmãos a beber vinho e começou a disparar tiros para o ar, sem ter tomado qualquer precaução, atingindo três crianças que estavam sentadas à beira de uma fogueira.

As lesões viriam a provocar a morte de uma das crianças e ferimentos ligeiros nas outras duas. Os exames balísticos comprovaram que a arma do crime pertencia a J. Monteiro.

J. Monteiro confessou ter andado aos tiros, mas diz que disparou contra um carro que se abeirou do acampamento, sublinhando que, naquela noite, estavam todos a festejar o aniversário do irmão.

“Quando a criança foi atingida já a GNR estava no acampamento”, disse o arguido. Mas esta versão foi contrariada pela irmã do acusado, Cristina Monteiro, que disse desconhecer quem disparou contra os menores, justificando que “naquela noite, não havia nenhuma festa”.

“Sei que chamaram pelo nome do J. Monteiro, e ouvi um disparo. Foi quando acertaram na minha filha, e na menina que estava ao lado e que morreu”.

O arguido, ao longo do seu depoimento, caiu numa série de contradições, que levaram mesmo o Procurador Adjunto do Ministério Público a questioná-lo como é que ele, se disparou para a frente, atingiu as crianças que estavam nas costas?

Ao que o arguido respondeu: “não tenho explicação”.

Ninguém sabe de nada

Entretanto, o cunhado do acusado, José Simão, afirmou desconhecer quem “tenha consumado os disparos, uma vez que tinha ido às compras”.

“Só quando cheguei é que um vizinho contou o que tinha acontecido, e foi nessa altura que deixei ficar os sacos no chão. Estava preocupado com o estado de saúde das crianças, nem tive tempo de saber que disparou os tiros”, acrescentou. No entanto, “mais tarde tentei descobrir, mas não consegui. Nunca soube nada”, referiu José Simão Aliás, um depoimento que, mais tarde, foi corroborado, quase na íntegra, pela mãe da criança atingida mortalmente: “Não sei quem disparou, porque tinha ido ao supermercado com o Simão. Quando cheguei ao acampamento já a minha filha estava no chão e quando regressei do hospital, deparei com o acampamento deserto”, afirmou Carla Monteiro, que adiantou, no entanto, ao tribunal ter ficado “zangada” com o seu cunhado - o principal suspeito - porque ele fugiu. “Não devia ter fugido”, reforçou.

Entretanto, devido às inúmeras contradições ocorridas durante a primeira sessão, o juiz decidiu ir ao local para recriar o que terá acontecido naquela noite, mas, devido à forte chuva que se fez sentir, já na parte final, o tribunal viu-se obrigado a suspender a diligência.

Pedro Fontes da Costa
pedro@jb.pt


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