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16-08-2005

A paz na Palestina


Editorial

Apesar das férias, do descanso mais ou menos conseguido dos portugueses (aqueles que podem), o mundo não pára.

Nestes dias de Agosto, um acontecimento marcará, para o bem ou para o mal, o futuro imediato do Médio Oriente: a retirada israelita da faixa de Gaza que o estado de Sião ocupa há 38 anos.

Os olhos de quase todos os dirigentes mundiais estão neste momento colocados nesta área do mundo. O que se lá passar terá consequências directas no nosso dia-a-dia e eles sabem-no. Muita da instabilidade mundial está directamente relacionada com a resolução do conflito israelo-palestiniano e poderá secar a fonte que inspira muito do terrorismo mundial.

Por isso, o secretário-geral das Nações Unidas considerou que a retirada de Israel da Faixa de Gaza é um «momento de promessa e esperança» que exige qualidade de estadista a todos os envolvidos.

Do lado dos conflituantes o primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, não podia ter sido mais claro. Os israelitas mostram ao mundo que são capazes de iniciar este prometido passo e possibilitarem o estabelecimento da paz com o estado palestiniano, mas também, avisam que responderão, com força, se não terminarem os ataques palestinos. “O mundo espera uma resposta dos palestinianos, que têm numa mão a paz e noutra o terrorismo. A uma mão que ofereça a paz, responderemos com um ramo de oliveira. Mas, se escolherem o fogo, nós responderemos com fogo, mais severamente que nunca”, lembrou Sharon.

Mas este processo está longe do fim e todos desejamos que continue pela via anunciada e isso dependerá tanto dos judeus como dos palestinos. O líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, respondendo a Sharon, disse que a retirada israelita da Faixa é um compromisso sério, mas que a ocupação israelita só terminará com a retirada da Cisjordânia.

Mas são principalmente as palavras e as frases ditas e escritas “entre-linhas” que devemos fixar nestes momentos. Elas ditam, normalmente, a evolução próximas dos conflitos e não são normalmente coincidentes com as manifestações de boas intenções e frases bonitas dos diplomatas.

Sempre achei que os chamados “falcões” são aqueles que podem dar os passos mais decisivos para terminar os conflitos e fazer a paz, mas também aqueles que não têm contemplações caso os planos falhem.

Para Sharon, que negociou sempre numa posição de força, a oportunidade de paz é única mas a possibilidade desferir um ataque como nunca se viu sobre os radicais palestinos é também muito alta.

Para Abbas, que não consegue controlar os radicais e por isso partiu sempre de uma posição desvantajosa, a paz depende, sobretudo, da diplomacia e da sua habilidade negocial e não das armas.

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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