Numa altura em que se pode esperar até 17 horas para ver o Papa, as autoridades pretendem evitar que uma longa fila permaneça para além do momento em que termina o período de câmara ardente, marcado para as 10:00 de quinta- feira.

Por isso, a protecção civil informou que as últimas pessoas a poderem juntar-se à fila o farão às 22:00 de hoje, uma notícia que deverá agravar ainda mais os já caóticos acessos ao Vaticano, com fiéis a tentarem "meter- se" na fila antes do encerramento.

A decisão foi anunciada pelo comissário extraordinário do governo italiano para as cerimónias fúnebres, Guido Bertolaso, que lembrou que muitos dos que se juntem à fila podem não conseguir chegar à Basílica antes do encerramento.

"A fila vai encerrar, com toda a probabilidade, esta noite às 22:00 porque se calcula que, nessa altura, já serão necessárias 24 horas para chegar à Basílica Vaticana", afirmou.

Esperar para homenagear o Papa na Basílica de São Pedro está a tornar-se um verdadeiro teste de fé, ou pelo menos de resistência, com milhares de pessoas a terem de vir preparadas tanto para o quente como para o frio.

Se durante o dia o calor aperta, ultrapassando os 20 graus Celsius - que parecem muito mais para quem está, sem sombra, horas e horas de pé - durante a noite o termómetro pode cair até aos cinco graus.

Esta noite elementos da protecção civil distribuíram cobertores a muitos dos que esperam na fila, o que permitiu que muitos se aquecessem ligeiramente, em especial no período em que a Basílica foi encerrada para limpeza e a fila, durante duas horas, não se mexeu.

Ainda assim, alguns não aguentam.

Já de madrugada, duas mulheres e uma jovem, faces pálidas do frio, semblantes sérios e tristes, estão mesmo à entrada da Praça. Uma das mais velhas passa a mão pela face da mais nova, sente-lhe a testa com as costas da mão, acena com a cabeça lentamente e o trio pede à polícia que abra a vedação de metal e as deixe sair da fila.

Esperaram horas, estão finalmente na Praça de São Pedro, mas daí até à Basílica a espera ainda pode ser de duas ou três horas. Olham para a Basílica, benzem-se e afastam-se cabisbaixas.

Exactamente no ponto oposto, onde a fila começa - ou termina - dois homens, mochilas nas costas, põem-se em bicos de pés para olhar por cima da fila.

Miroslaw Jarosinski, polaco, saiu com o amigo de Varsóvia "especialmente para ver o Papa", porque "algo" lhe disse "que tinha de vir aqui".

Veio de avião até Bolonha, "não há voos para Roma", de comboio até à capital, esperou na fila de autocarro, que o levou até aonde pôde ir, depois veio a pé.

"Quero honrar um grande homem, um grande polaco. Vim como católico que sou mas porque senti que era importante", explica.

Informado por um elemento da protecção civil de que se está ali, agora, a espera pode ser de "15 horas", Miroslaw faz uma pausa, apoia o braço na vedação, vira-se para o amigo e comenta, em inglês: "Ok. No problem".

O volume de lixo continua a crescer. As autoridades recorrem agora a polícias para irem separando a fila em vários grupos, deixando avançar um para criar um espaço vazio, que, depois de limpo, tão rapidamente como possível por jovens com vassouras de palha, é preenchido pelo grupo seguinte.

Essa situação prolonga-se, fila adiante, na Praça de São Pedro, ao longo da avenida principal que conduz ao centro do Vaticano e que depois se estende por vias e ruas, subindo já a principal ponte de acesso ao estado mais pequeno do mundo.

É uma longa peregrinação. Que já tem hora marcada para terminar.