Sérgio Granjeia, de 35 anos, morava com a mãe, Olinda Granjeia, na Silveira, Oiã, há vários anos, e terá inventado um crime para explicar a morte natural da mãe, de 81 anos, que foi encontrada sem vida dentro de casa, ao final da tarde do último domingo, por militares da GNR de Oliveira do Bairro, com supostos sinais de agressão na cabeça. Filho exemplar Sérgio Granjeia era um filho exemplar, cuidava carinhosamente da progenitora, mas não terá aceite a sua morte. Durante a tarde, fez um telefonema para a GNR de Oliveira do Bairro, dando conta de que teria havido um homicídio. Descreveu o crime, o local onde ocorreu, e deixou pistas sobre o culpado. Que seria ele próprio, atendendo a que, na casa, não havia sinais de qualquer arrombamento. Aliás, a própria GNR teve que partir um vidro para entrar no interior da habitação. Em seguida, Sérgio entregou-se nas instalações da Judiciária de Coimbra. Voltou a contar a mesma história do crime e, embora nunca o assumisse claramente, voltava a deixar pistas que o incriminavam a si próprio. No dia em que a idosa apareceu morta foi apontado como o principal suspeito, mas as contradições manifestadas nos depoimentos levaram as autoridades policiais a equacionar outros cenários. Foi levado para a PJ Foi levado para a PJ de Aveiro, onde estava a ser instruído o inquérito, mas até ao fecho desta edição ainda não tinha sido detido. Ainda sem ser conhecido o resultado da autópsia, os investigadores evitavam avançar para a prisão. Afinal, tudo apontava para um cenário de morte natural e que a tese de crime fosse uma invenção. "Sempre achámos que quando a mãe morresse, ele não aguentava. Que morria também", disse um familiar de Sérgio ao Jornal da Bairrada, enaltecendo o carinho e o cuidado que o filho demonstrava no dia-a-dia. "Tomava conta dela como ninguém, era um filho exemplar. Só não aceitava que a levassem dali, nem queria ouvir a possibilidade de ser transferida para um lar", acrescentou a mesma testemunha. Fontes judiciais disseram ao JB que os resultados completos da autópsia ainda poderão demorar mais alguns dias, ou mesmo semanas, e que, por agora, nada existe contra o jovem que sempre revelou um comportamento perturbado. O amor que nutria pela mãe era excessivo e todos os médicos que acompanhavam, a idosa definiam o filho como demasiado protector. Ele fazia tudo O mesmo familiar disse ainda que "o filho não trabalhava, vivendo apenas com a reforma de viuvez da mãe. O caso chegou, há dois anos, a ser acompanhado pelas entidades competentes, mas nunca conseguiram convencer o filho a deixar que ela fosse para um lar". "Ele fazia tudo em casa, desde a higiene pessoal até à alimentação", acrescentou, explicando ainda que Olinda Granjeia passava os dias deitada na cama”. Segundo vizinhos, S. Granjeia passava vários dias sem sair de casa e dedicava-se à leitura. "É um homem discreto e com uma cultura bastante elevada", comentava-se no dia em que a idosa apareceu morta na Silveira. “Estava muito débil” "A senhora que lhe foi dar a comunhão, nesse dia de manhã, comentou que a situação dela era muito débil. Disse-nos que lhe parecia estar muito mal. Pronta para passar para o outro lado", acrescentou outra testemunha, que também ficou incrédula com a primeira hipótese avançada pelo indivíduo - de que teria havido um homicídio, sendo ele próprio o suspeito. Quanto às alegadas marcas de agressão que a idosa apresentava, seriam, afinal, equimoses antigas, provocadas pelo facto de estar há muito acamada e sofrer da doença de Parkinson. Aliás, da mesma opinião comunga o pároco de Oiã, que, naquela tarde, ia visitar a idosa e deparou com o suposto cenário de crime. Ao JB afirmou ainda que a idosa já há muito tempo estava muito mal.
Pedro Fontes da Costa pedro@jb.pt |