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18-01-2005

A Ásia


Editorial

A recente visita do Presidente da República à China e cujos objectivos passaram despercebidos à grande maioria dos portugueses, se é que os houve, pode ter pelo menos o interesse de nos fazer reflectir um pouco sobre a crescente influência da Ásia no mundo de hoje.

A Ásia, que os portugueses do século XVI e XVII conheceram bem, está a mudar rapidamente. A nossa cultura, outrora vista como exótica, mas também como modelo e tecnologicamente avançada, soçobrou com a queda do nosso império. Mas desfeito o nosso curto reinado marítimo, fomos perdendo influência regional e, desligando-nos das terras com que comerciámos e trocámos cultura. Infelizmente, mas acho que também faz parte da nossa maneira de ser desaproveitamos oportunidades para o futuro, quando não soubemos manter os laços culturais com a Índia (apesar da queda da nossa saída de Goa Damão e Diu), com o Sri Lanka (antigo Ceilão ou a Taprobana de Camões).

A nossa influência de 150 anos no Japão desapareceu com a abalada dos jesuítas, restando apenas algumas palavras na língua local e um pão-de-ló que em Nagasaki tem o nome de Castela.

Na Malásia, subsistem ainda hoje comunidades restritas que falam um português seiscentista, com que ninguém por cá se importa ou dá o devido relevo, quanto mais que não seja cultural. Apesar da nossa fantástica mobilização aquando do caso de Timor, cada vez mais penso que apenas serviu para alguma promoção interna, pois os timorenses já perceberam que é mais vantajoso ligarem-se aos australianos. A nossa ajuda no ensino ou na preservação dos valores culturais que também são os de Timor é imberbe, frouxa e desajustada da realidade local. É desgraçadamente mais importante gastar desmesuradamente dinheiro na administração governativa em território pátrio.

A nossa influência asiática perdeu-se definitivamente e o seu símbolo foi a inevitável entrega da praça de Macau à China. O negócio brilhante dos nossos antepassados esgotou-se na nossa incapacidade colectiva de perceber o pensamento estratégico que suportou tal ideia. Porque não soubemos manter a nossa intervenção no mundo asiático, ajustando e modificando a nossa forma de estar com esses povos, estamos hoje limitados a visitas comerciais e de charme ao Oriente, mas em que já não somos vistos como modelo ou pertencendo a um outro mundo mais evoluído.

Hoje, somos olhados como interesse conjuntural e uma oportunidade de mercado para os produtos orientais. A Ásia é hoje um potentado em crescendo, e não é preciso ser profeta para perceber que vai disputar a liderança económica mundial com os EUA. Basta conhecer o desenvolvimento extraordinário que a Formosa, Xangai, a Coreia do Sul ou Singapura tiveram no último quarto do século XX.

Actualmente, estes países não se limitam a copiar produtos, como se dizia dos japoneses, fazem e produzem inovação. Veja-se nos nossos bem de consumo diários (automóveis, telemóveis, roupa, etc.)

No entretanto, e como que indiferente e gozando os últimos cobres duma qualquer herança, a velha e gorda Europa contempla e consome-se em estéreis discussões, que em nada a fazem progredir, como,, por exemplo o lugar dos homossexuais na sociedade ou se devemos trabalhar 35 horas contra as quase 50 asiáticas.

Mais do que a ascensão asiática devemos compreender e preocuparmo-nos com a queda da Europa e de Portugal no mundo de hoje, que caminha novamente para um bi-polarismo que a Europa não vai liderar.

Significativo foi para mim um comentário de um industrial amigo a propósito da recente tragédia no sueste asiático. Passada a hora do choque e chegado o tempo da reconstrução, pelo menos os chineses deixam-nos por um bocado em paz, enquanto vão vender para a Indonésia que estão mais perto. O outro contra-senso é que o grande esforço solidário é ocidental.
António Granjeia*
*Administrador


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