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03-01-2005

Não é possível ficar indiferente à devastação


Editorial

Muitas vezes, depois de ter elegido um tema mapa ao escrever estas pequenas crónicas semanais, os acontecimentos do fim-de-semana ultrapassam a escrita a grande velocidade. Aconteceu mais uma vez nestes dias de tragédia e catástrofe na Ásia.

Não é possível ficar indiferente à devastação enorme que um inesperado maremoto provoca. Indiferente à dor de vermos milhares de seres humanos mortos, os seus corpos espalhados e expostos numa imensa baía de lamas e escombros. Na hora em que escrevo palavras, já se contam mais 21000 mortos e milhares de desaparecidos.

Toda a destruição que atingiu aquelas terras, que os portugueses percorreram e revelaram ao ocidente, há cinco séculos, é hoje um mar de dor, drama e desolação. Resta-nos ajudar materialmente nestas horas difíceis esta gente indefesa à destruição enraivecida da natureza e esperar que os seus governos possam acudir localmente.

Aleatoriamente despoletados, os sismos que provocaram estas ondas, estão muito para além do controle humano. Maremotos existem há séculos (O mais antigo de que há relato ocorreu em 1490 A.C., quando a explosão do vulcão Santorin devastou as costas do mar Egeu).

Na história nacional, relembramos também a destruição causada pelo sismo de 1755 que também trouxe enormes vagas demolidoras a Lisboa.

Mas, infelizmente, cada vez mais temos a impressão que induzimos estas catástrofes. Essa é de facto a grande diferença entre este tipo de desastres na antiguidade e agora, na era moderna. Não as controlamos, somos-lhes impotentes, mas ainda as provocamos. De facto, a exploração, a ritmos excessivos, dos recursos subaquáticos petrolíferos, o aquecimento global da Terra com o consequente degelo das calotes polares, tem provocado uma alteração do equilíbrio do peso dos oceanos nas massas continentais. Estas alterações, que não queremos ver porque nos alteram o confortável quotidiano, podem-nos chegar mais tarde, pela pior das tragédias.

Devemos todos repensar os nossos usos e gastos e forçar os nossos governos a mudar de rumo.

De que serve a abundância, a prosperidade se não respeitarmos a natureza?

António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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