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21-09-2004

III edição de Música Jovem marcada pela ausência de p


Anadia

Numa iniciativa da Associação dos Amigos da Música de Anadia, teve lugar, no Anfiteatro do Vale Santo, em Anadia, entre os dias 15 e 18 do corrente, a 3ª edição do Encontro Regional de Música Jovem, que já integra o calendário anual das actividades da Associação, e se realizou, pela primeira vez neste local (as duas primeiras edições tiveram lugar na Praça Visconde de Seabra, em pleno centro da vila anadiense) e o balanço feito por Maria Antónia Mota, presidente da Associação, não poderia ser mais negro e desesperante.
Com as lágrimas nos olhos falou do desânimo, da angústia e tristeza sentidos por todos aqueles que, ao longo de alguns meses, trabalharam para que este projecto fosse um sucesso.

Não somos compensados pelo esforço

“Lamento que o sucesso não tenha sido o mesmo dos anos anteriores. Esta situação leva-nos à exaustão e constatamos que não somos compensados pelo esforço que tivemos”.
Foi assim, com os olhos raiados de lágrimas, que a principal dirigente da AAMA falou deste III Encontro Regional de Música, marcado pela ausência de público, embora S.Pedro tenha ajudado à festa, proporcionando belos dias de sol e noites de temperaturas amenas.
Embora tenha apenas seis anos de vida a Associação dos Amigos da Música de Anadia é uma das agremiações mais activas do concelho, participando regularmente em inúmeras iniciativas de âmbito cultural que se realizam na região. Situações que não lhe valeram agora de muito, já que a população do concelho primou pela ausência, ficando a Associação a braços com inúmeros problemas, sobretudo financeiros.
“Quando pensamos em fazer um evento desta natureza, com o intuito de arranjar receitas para a Associação, trabalhamos meses a fio naquele que é o mais arrojado programa de sempre e, depois, obtemos este resultado… Só podemos ficar com o coração pequenino e ter vontade de abandonar tudo”, desabafou Maria Antónia que aponta como principais responsáveis para o insucesso o facto da iniciativa se ter realizado no anfiteatro do Vale Santo, neste mês de Setembro.
“Tivemos tudo preparado para fazer o Encontro a 30 de Junho, 1,2 e 3 de Julho, mas achámos por bem cancelar tudo uma vez que coincidia com uma série de iniciativas da Câmara Municipal.”

A data não poderia ter sido pior

Esta responsável chega agora à conclusão que a data não poderia ter sido pior (época de vindimas), ao mesmo tempo que o local deixa muito a desejar: “as pessoas simplesmente não aparecem. São comodistas e não aparecem aqui com a mesma facilidade com que o faziam na Praça Visconde de Seabra ou nas traseiras dos Paços do Concelho. Como isto não é no centro da vila, o público, à noite, é escasso, embora tenhamos o melhor programa de sempre”.
O fracasso foi tal que nem os cerca de 10 expositores de artesanato, velharias e antiguidades lhe valeram: “era uma mostra sem precedentes. Havia peças lindíssimas, mas foram praticamente todos embora no dia 15. Disseram-me que não tinham vendido uma única peça e que iriam para outros locais, para outras feiras, onde pudessem fazer negócio. Aqui só estavam a perder dinheiro”.
Maria Antónia admite mesmo a JB que “neste local e nesta época, nunca mais, até porque os expositores (a maioria vindos do norte) fizeram-nos ver isso mesmo. Se continuar a ser aqui nunca mais cá virão”.
Reconhecendo que o Anfiteatro do Vale Santo é um excelente espaço para a realização de actividades ao ar livre, defende no entanto que “por esse país for a, este tipo de eventos realiza-se nos centros das vilas, nas praças principais por forma a atrair mais público e nunca num local periférico que as pessoas não frequentam tanto”.
Maria Antónia avançou ainda que “quando estávamos à espera de, nestes quatro dias, realizar uma boa quantia de dinheiro para a Associação e para suportar as despesas do Encontro, orçadas em mais de 8 mil euros, verificamos que vamos ter um prejuízo sem precedentes”. Uma situação que diz ser “revoltante e desmotivante” uma vez que há vários meses que estão a trabalhar para o sucesso do III Encontro Regional de Música Jovem.
Agradecendo às casas comerciais, às empresas e amigos que, desde a primeira hora, abraçaram a iniciativa, sobretudo o Instituto Português da Juventude – Aveiro, contribuindo com donativos para o evento reconhece que o dinheiro vai faltar, sendo impossível cumprir e honrar os compromissos assumidos.

ACTIVIDADES PARALELAS

Tal como nas anteriores edições nem só de música viveu este Encontro, pelo que, em simultâneo, tiveram lugar diversas actividades paralelas entre as quais uma quermesse, ateliers diversos e ludoteca que também deixaram muito a desejar: “contactámos e convidámos todas as instituições do concelho – mais de vinte, mas apenas duas participaram – Centro Social S. José de Cluny e o Centro Social e Paroquial da Moita”, disse ainda.
Para Maria Antónia esta situação é elucidativa do desinteresse da população, das associações e colectividades do concelho face à cultura: “pela participação nos ateliers e na ludoteca só cobraríamos 20 euros por valência (Creche, Jardim de Infância, ATL, Lar, Centro de Dia) a cada instituição que aderisse. Simplesmente não compareceram. A razão, não sei. Penso que o preço era acessível: numa valência com 30 crianças daria cerca de 50 cêntimos a cada uma. Será assim tão caro?”
A terminar, admitiu que este tipo de situações são “uma vergonha para o concelho, para a população, enfim para todos nós”.
Acrescente-se ainda que este Encontro de Música Jovem visa não só a reunião de jovens músicos da região, ao mesmo tempo que promove o fortalecimento, o intercâmbio e os laços de amizade entre os diversos grupos e associações participantes.

Catarina Cerca

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