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13-07-2004

Porque aumenta o petróleo


Editorial

A situação que se vive no Médio Oriente reavivou um problema que todos conhecemos: a excessiva sujeição da civilização ocidental ao petróleo. E uma coisa é certa, não podemos ignorar esta dependência; seja por razões ambientais, por razões económicas e, ou até, por razões políticas. É certo que estamos, hoje, menos dependentes do que há trinta anos, aquando da primeira crise petrolífera. Melhorámos a nossa eficácia energética, mas continuamos ainda demasiado dependentes do ouro negro. Conhecemos naturalmente as razões ambientais: A queima de combustíveis fosseis, que liberta dióxido de carbono, provoca o efeito de estufa e o aquecimento global do planeta. Um recente estudo, O SIAM II, evidencia e mostra hoje algumas das incertezas associadas ao futuro do clima de Portugal (http://www.siam.fc.ul.pt). Economicamente esta dependência é tanto mais clara quanto o petróleo, um produto finito, vai escasseando e o aumento da procura lhe vai elevando o preço. Se somarmos a emergente industrialização dos países asiáticos, demasiado dependentes do consumo deste bem, não é crível sequer sustentar a médio prazo uma estabilização de preços do crude. Para Portugal a situação ainda é mais complicada porque, como todos sabemos, não temos petróleo. Apenas o compramos, pelo que a nossa dependência é absoluta. Finalmente, as razões políticas provêm da crise de produção mundial. Quase dois terços das reservas mundiais de petróleo localizam-se na região do Golfo Pérsico. Esta região do mundo está constantemente envolta em guerras e tornou-se uma das mais explosivas e instáveis do nosso mundo. Não conhecemos, infelizmente, sinais de que esta situação se vá alterar. É o caldeirão em que se formam os terroristas de hoje, é o palco para as batalhas mais sangrentas, é a escola do fundamentalismo islâmico e da intolerância judia. Também sabemos que não tem havido mudanças políticas neste conjunto de países que nos levem a sequer augurar um futuro menos sombrio. O problema é também muitas vezes relacionado com a Arábia Saudita, que é o país detentor das maiores reservas mundiais. Neste país a produção do barril de petróleo custa 2 dólares contra os quase 15, por exemplo no mar do norte. A instabilidade na região e os constantes ataques terroristas às plataformas de extracção obrigam a um prémio de risco à produção de 10 dólares aproximando os valores aos da produção no mar. Percebemos agora como é importante e determinante o impacto da situação política e solução dos problemas no médio oriente no preço do crude. Para agravar a situação o mercado está a transaccionar o barril a quase 40 dólares. Só temos então um caminho. Alterar a dependência do petróleo. Como não se modifica esta situação por decreto de um qualquer governo deveremos contar com a imaginação, o invento humano e a exigência de políticas públicas neste sector: por um lado, exigir o empenhamento concreto da administração pública na conservação energética criando incentivos à poupança e fiscalizando, com punição, o desperdício. Por outro lado, incentivando a investigação e a procura de novas soluções e alternativas. Portugal deve considerar uma tarefa nacional empenhar o seu maior esforço neste desígnio até porque é dos países mais dependentes e sem alternativas. Investir em novos produtos e métodos energéticos é agora porque quase ninguém o faz. Custa dinheiro mas trará dividendos, no futuro. Mas estas políticas, que esperamos dos executivos europeus, também têm que alterar comportamentos no povo. Não podemos querer energia mais barata sem custos a outros níveis. Seremos obrigados a optar. Não podemos querer energias mais acessíveis e vetar, por sistema, a construção de barragens, parques eólicos ou de marés só porque fica feio, estraga umas gravuras ou mata umas árvores. O aquecimento do planeta vai acabar com tudo isso muito mais depressa do que pensamos. Portanto, temos que fazer escolhas e optar pelos impactos menos desfavoráveis.  

 


António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada

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