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29-05-2004

Quercus desafia novo ministro do Ambiente a chumbar


Incineradora - Centro

A Quercus desafiou ontem o novo ministro do Ambiente a chumbar a construção da incineradora de resíduos prevista para o litoral Centro e anunciou que vai "transferir" o grosso dos protestos para Aveiro. "Até em nome das Finanças nacionais, além do Ambiente, a decisão só pode ser a recusa", disse aos jornalistas o dirigente da Quercus João Gabriel Silva, questionado sobre que posição espera do novo ministro, Arlindo Cunha. Para a Quercus, uma moção da Assembleia Municipal de Coimbra, aprovada há duas semanas - a rejeitar a incineração e a defender a reciclagem e compostagem (tratamento mecânico biológico) - "não pode ser ignorada" pela ERSUC - Empresa de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro, que recolhe e trata os lixos de 36 concelhos dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria. "O sistema (incineração) que, já de si tinha uma rentabilidade muito duvidosa, fica basicamente comprometido", considerou o ambientalista, frisando que Coimbra é, das autarquias, "a principal accionista (da ERSUC) e a que mais resíduos produz". Na sua opinião, a posição do município de Coimbra é "inequívoca e constitui a desvinculação do projecto". A Quercus solicitou já uma audiência a Arlindo Cunha, com o objectivo de alertar que o projecto (da construção da incineradora), em análise no Ministério do Ambiente, "não é pacífico e tem uma alternativa muito mais barata - o tratamento mecânico biológico". "Quando se fala numa incineradora que custa mais 50 milhões de euros que o tratamento mecânico biológico é muito dinheiro para uma decisão que não compreenderemos jamais que seja tomada", declarou aos jornalistas, após entregar uma cópia da moção aprovada pelo município de Coimbra à ERSUC. A Câmara de Aveiro foi, até agora, a única autarquia que se manifestou aberta a receber a incineradora, daí que a Quercus pretenda "transferir o «grosso» dos protestos para lá". "Temos muito medo que a reconhecida péssima situação financeira da Câmara de Aveiro a possa tornar uma presa fácil de ofertas de contrapartidas que não deviam existir", justificou João Gabriel Silva. O ambientalista considera "incompreensível que a Câmara de Aveiro possa receber uma instalação (da incineradora) reconhecidamente má". "Espero que se possa decidir com independência mas, infelizmente, a hesitação e as afirmações do presidente da Câmara de Aveiro não nos deixam muito sossegados", disse. O custo estimado da construção da incineradora é de 150 milhões de euros e o financiamento garantido até agora pelo Governo é de 25 por cento, mas as autarquias exigem que o apoio seja de 50 por cento. Na conferência de imprensa, João Gabriel Silva acusou ainda a ERSUC de ser um "grave entrave" para que se encontre uma "solução a tempo, barata e amiga do ambiente" alternativa aos actuais três aterros sanitários (prestes a esgotarem a capacidade) onde são depositados os resíduos urbanos dos 36 concelhos envolvidos.

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