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23-04-2004

Baixo Vouga em degradação ambiental



O chefe do projecto agrícola do Baixo Vouga, Magalhães Crespo, disse ontem que toda a zona está em degradação ambiental devido à ruína das defesas tradicionais (motas) dos campos e ao avanço da água salgada.

"A zona está em preocupante processo de degradação ambiental, devido à falta de diques de defesa nas zonas de influência das marés, o que é extensivo à Murtosa, Ovar e Mira", afirmou.

Magalhães Crespo, que falava no Congresso da Ria, organizado pela Associação de Municípios da Ria(AMRia), explicou que, após as obras de expansão portuária, "o sistema tradicional de protecção dos campos tem vindo a sucumbir devido à pressão das águas".

De acordo com os dados que referiu, em 1930 a Ria de Aveiro armazenava um volume de 60 milhões de metros cúbicos de água e neste momento, em cada maré, registam-se 110 a 120 milhões de metros cúbicos.

Segundo o responsável pelo projecto agrícola do baixo Vouga, depois de se ter assistido à ruína das defesas da zona de produção de sal, o volume de água de cada maré tende a fazer ruir as motas de defesa, pelo que, em termos de terrenos agrícolas, acontece o mesmo que no salgado".

Magalhães Crespo citou um estudo multitemporal de fotointerpretação, feito pela Universidade de Aveiro, o qual chegou à conclusão de que, em cinquenta anos, 360 hectares agrícolas foram engolidos e 13 quilómetros de motas sucumbiram, num total de 100 quilómetros.

A água salgada entra pelos esteiros (canais) para os terrenos agrícolas e os rombos vão aumentado. Os solos ficam estéreis e as espécies arbóreas, por terem as raízes mais profundas, são as primeiras a sucumbir, o que está a pôr em causa a diversidade ornitológica.

"Se o dique não tivesse sido construído, a água salgada estava hoje na Estrada Nacional nº 109", afirmou.

Magalhães Crespo criticou o facto de se fazerem estudos de impacto ambiental para viabilizar intervenções na Ria, como o desassoreamento de canais, ignorando os efeitos no sistema de defesa dos campos.

"Preocupa-nos seriamente. Não faz sentido fazer estudos de impacto na Ria se não reflectirem o que essas intervenções vão provocar no sistema tradicional. Isso é batota", declarou, manifestando a opinião de que esses impactos devem ser avaliados e tais obras condicionadas ao reforço das motas.

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