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01-04-2003

Diagnósticos correctos Remédios incertos


Editorial

Editorial Diagnósticos correctos Remédios incertos Da Europa não vêm boas notícias. Como se já não bastassem as que, mázinhas, do país nos chegam todos os dias. Além de outras, o aumento do custo da energia eléctrica no próximo ano, que pode rondar os 4%. Em período de contenção de tudo e emagrecimento dos ordenados, é obra. Não há contas caseiras (nem outras) que aguentem. Ainda se a economia no próximo ano começasse a recuperar de algumas maleiras, mas não são essas as previsões. O Orçamento do Estado, aprovado sem muita conversa, por parte das bancadas que apoiam o governo, talvez com pressa de fugir a muitas questões que pudessem provir das outras bancadas, guerreiras por excelência, e não menos palavrosas, mas em abono da verdade, com algumas preocupações legítimas - aponta para um crescimento económico de 1,75% quando a Comissão Europeia só acena com 1,25%. Resta saber ainda e quando se dá a reanimação da economia... Mas a Comissão Europeia, por outro lado, embora veja com simpatia as medidas que o governo está a implementar para a recuperação do défice orçamental e até as estimule, coloca francas reticências quanto à redução do défice tanto no corrente ano como no próximo. Para o corrente ano, coloca a fasquia acima do limite dos 3%, exactamente em 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB). A ministra Ferreira Leite nega essa hipótese e mostra-se bem mais optimista. Talvez ela saiba as luminosas razões. Os políticos são capazes de ter outras luzes e verem o que o vulgar cidadão não vê. Se é que vêem de verdade. Às vezes, nem com os holofotes de estádio... Para Fevereiro se saberá quem viu melhor. Ferreira Leite até nem tem feito mal os diagnósticos para atacar as doenças. O pior é que, depois, os remédios que prescreve, estão a dar pouco resultado. Já não falando no decréscimo das receitas do IRS e RC e IVA, (mais empresas vão falindo, já ultrapassa o milhar este ano enquanto outras são fantasmas), e com a facturação a decrescer e com a habitual habilidade de alguns na fuga ao fisco, temos que reconhecer que a venda do património não foi particularmente feliz e rendosa Poderá a ministra lançar novo pregão para o ano... Também não se pode vender tudo de uma só vez. Agora, a caça às dívidas fiscais, através da publicação da medida que, de mão beijada, perdoa os juros, se acertada, vem também em hora de ponta, quase no fim do ano... Pode ser outro falhanço. E muitos falhanços podem ajudar a contrariar as previsões. E, sem dinheiro fresco, entrado nos cofres do Estado, onde já devia estar há muitos anos, não há Pacto de Estabilidade que se ganhe. Por outro lado, o Orçamento de Estado, de tal forma é restritivo e apertado que isso pode concorrer no pior sentido. Tanto o Governo quer apertar para satisfazer esse papão que a economia pode derrapar para uma indesejável recessão. O pior cenário para todos. As suspeições sobre este quadro, já há quem as faça cá dentro, por exemplo, Miguel Cadilhe. Com esta agravante. O Estado é cego, ainda que seja suposto qualquer Governo ver e ouvir bem. Se o Estado é cego, o governo é surdo e a ministra Ferreira não está vocacionada no momento para qualquer tipo de afectos para com os portugueses. Minto. Abriu uma única excepção, ao perdoar os juros aos que, por qualquer motivo, não têm as contas em dia com o Fisco. Os cidadãos, que pagam tudo para que o Pacto de Estabilidade esteja de papo bem humorado, esses têm de ouvir milhentas vezes o verbo poupar, tanto que já que nem querem ouvir. O grave é que por mil vezes que se diga que é necessário, em nome daquele monstro, apertar o cinto, fazer cura de emagrecimento, há os que só ouvem o apelo às greves. Será que o Pacto de Estabilidade não é feito para o bem estar dos cidadãos? Será que o Pacto de Estabilidade previu o cortejo das greves no país de brandos costumes, mas de muita farra que só virão dar mais dores de cabeça à ministra e, no confronto dos extremos, algum gozo à oposição? Cada greve que o país faça, é sempre mais um rombo no pacto de Estabilidade, não importa se o médico vai fazer medicina noutro local, se a funcionária da Loja do Cidadão, grávida de meses, vai tratar do enxoval, se o funcionário das Finanças vai até à Sera da Estrela ver a neve. Assim não é bonito e o facto concorre para que os sindicatos e governo nunca acertem com os números. Quem mente mais? Como seria muito mais interessante que cada um ou fosse para a rua ou ficasse no seu posto de trabalho para assim assumir a sua revolta, o seu desagrado, contra medidas eventualmente chocantes do governo. (21 Nov / 10:22)

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