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01-04-2003

Os Educadores do Pré-Primário e o Ministro da Tutela


Pluralidade

Os Educadores do Pré-Primário e o Ministro da Tutela António Marcelino* Sempre me preocuparam os problemas da educação, por isso os procuro acompanhar com a atenção possível. Entre os muitos problemas do momento, está na praça pública a preocupação de o Governo dar atenção a um problema concreto, que é o dos pais trabalhadores que não têm a quem deixar as crianças nos dias que ultrapassam as suas férias, nem disponibilidade de tempo, nem familiares que as recolham à hora que terminam as aulas. As instituições de solidariedade social, a funcionar com normalidade desde o início de Setembro, dão atenção a esta situação. Os agentes do ensino público, que muitas vezes põem nestas instituições os seus filhos por igual razão, embora reconheçam algum interesse no problema em causa, dizem que não lhes compete a eles a solução e reivindicam, para sua defesa, exigências de qualidade pedagógica e direitos pessoais de professores, iguais aos restantes colegas. Tudo isto, porque as normas do ministério tocam no seu tempo de férias, quer de Verão, quer das pausas previstas em vários períodos do ano e lhes alargam o tempo lectivo diário. Sempre reconheci, seja a quem for e, como é óbvio, também aos educadores de infância, a defesa dos seus direitos legítimos. Porém, também penso que ninguém está isolado de um conjunto que deve pesar nas decisões, nem pode perder ou amolecer a razão pelo modo menos certo de a defender publicamente. Os educadores de infância têm o dever de ser solidários na procura de soluções para uma situação que eles sabem que é real e lhes toca, directamente, em muitos aspectos. Eles não são educadores de crianças apenas umas horas por dia ou uns dias por semana, de modo a que, tudo o mais que vai para além do seu horário, lhes seja indiferente. Num processo educativo, tanto os momentos de presença física como os que se passam quando se está ausente são importantes e não se podem dissociar, quando se pretende êxito. Uma criança, mormente nessa idade, não é uma peça que se deixa na máquina para retomar o trabalho no dia seguinte. A parceria activa com todos os agentes educativos é o mínimo que se pode pedir a um educador consciente. Por outro lado, é menos digno que, para defender direitos pessoais, se ofendam colegas com o mesmo curso e, pelo menos, igual competência, como são as educadoras das instituições particulares de solidariedade social. Têm-no dito à boca cheia as educadoras de infância que aparecem como líderes da contestação que não querem, por razões pedagógicas, que as suas escolas se transformem em instituições de solidariedade socia. Ora, há muitíssimas instituições que pedem meças, em qualidade e competência do seu pessoal, aos melhores jardins da rede pública. Este desprezo pelas instituições privadas, por parte de sindicatos e partidos, não dignifica nada, em nenhum aspecto, quem o manifesta. Uma música que se tornou monótona e triste, mas também já inofensiva para quem está atento. Por último, um educador até na reivindicação de direitos deve ser educador. Dos seus alunos e da opinião pública. Por isso chocam os ditos e os desafios ao ministro e o manifestado acrescento de que tudo isto é apenas um aperitivo, por que o manjar será ainda mais suculento... Não sei o que pensam os pais quando se deparam com tais educadores dos seus filhos indefesos. Por mim, como cidadão atento e certamente ao lado de muitos outros que o estão também, preocupa-me o futuro de um país, quando os que recebem a missão e o encargo de educar crianças de tenra idade expõem, de modo tão triste e preocupante, o vazio que lhes vai dentro. Eu sei que a grande maioria dos verdadeiros educadores não é assim, nem pensa assim. Mas nisto, como em tantas outras coisas e ocasiões, os que metem mais barulho e aparecem com gritos a representar a classe são, normalmente, os que menos sujam as mãos na vida, e nem sempre aparecem claros os interesses que os movem. O modo de reivindicar não pode ser alheio nem comprometer as razões que se têm para o poder fazer com êxito. Sempre e muito menos com educadores. * Bispo de Aveiro (30 Set / 9:25)

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