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01-04-2003

O dia em que a deusa Friga anda por aí


Sociedade - Sexta-feira 13

Sociedade Sexta-feira 13 O dia em que a deusa Friga anda por aí Os supersticiosos têm hoje um longo dia pela frente, em que passar debaixo de uma escada ou partir um espelho será duplamente perigoso, porque hoje, sexta- feira 13, já é por si um dia de azar. Com origens na tradição cristã mas também em lendas nórdicas, a ideia de que sexta-feira 13 é um dia de azar está profundamente enraizada junto dos portugueses, principalmente no norte do país, tradicionalmente mais religioso. Mas não é assim para todos. O padre António Fontes, o organizador do congresso anual de medicina popular em Vilar de Perdizes começou há 10 anos uma tradição que hoje vai cumprir de novo: comemorar com um jantar a efeméride. Começou com um ou dois jantares por ano, consoante o calendário, mas hoje Montalegre, sede do concelho, é já «a capital« da «Ceia das Bruxas«, com muitos restaurantes a aproveitar a ideia e a promoverem jantares diferentes. Em declarações à Agência Lusa o padre explicou que este ano promoveu um jantar que vai juntar cerca de 70 corajosas pessoas e que tem uma particularidade: realiza-se pela primeira vez numa casa que o próprio padre comprou e que transformou em hotel rural mas que a população diz que é assombrada. Fica em Mourilhe, a escassos cinco minutos de Montalegre. «A casa pertencia a uma família que emigrou e desde aí foi residência de professores, guardas... pessoas estranhas à terra, porque os da terra têm medo«. Mas o padre não tem medo. Comprou a casa, restaurou-a, fez nela 16 quartos e um amplo salão, onde hoje os presentes vão comer de entrada um caldo de urtigas (que António Fontes garante ser medicinal) e depois pratos como «vitela embruxada«, acompanhados por «pão que o diabo amassou«. Mas são só nomes estranhos, porque os pratos são na realidade «da melhor e tradicional gastronomia«, acabando a ceia das bruxas por ser uma forma de atrair turistas à região. E como se não bastasse entre as 23:00 e as 24:00 de hoje, por ideia do padre e com o apoio da Câmara, promove-se uma «Queimada« no castelo de Montalegre. Queimam-se 50 litros de aguardente com frutos e especiarias para lhe dar sabor e «cria-se um ambiente mágico« à volta da bebida, estando as pessoas convidadas a «vestir de acordo com o momento«. António Fontes reconhece que estas iniciativas ainda não são bem recebidas por todos, que ainda há muitos medos e muitas pessoas que dizem que «com coisas sérias não se brinca«. Não é esta a ideia do padre. Explica que este medo da sexta-feira 13 vem no seguimento de muitos outros medos, da noite, da lua, do sol, das bruxas, das luzes, das sombras... e que é «um exemplo de um motivo religioso que causou um ritual pagão«. Mas será no entanto ainda assim um dia difícil de passar para os mais supersticiosos, que talvez nem saibam que o mito à volta da sexta-feira 13 (que já inspirou muitos filmes de terror) terá origem na morte de Cristo e na sua última ceia. Segundo a Bíblia Jesus Cristo foi crucificado a uma sexta- feira e na sua última ceia estavam 13 pessoas. Por isso ainda hoje se costuma dizer que «dá azar« ter 13 pessoas à mesma mesa. Mas o mito de sexta-feira 13 pode ter também origem na mitologia nórdica, expresso em duas lendas. Uma conta que num banquete em que estavam 12 deuses apareceu um que não tinha sido convidado e na confusão que se seguiu acabou por morrer o deus mais querido. A partir daí convidar 13 pessoas para uma mesa ficou sinónimo de desgraça. A segunda lenda conta que a deusa do amor e da beleza, que se chamava Friga (que deu origem à palavra Friadagr, que quer dizer sexta-feira), foi considerada bruxa quando as tribos nórdicas se converteram ao cristianismo. Como vingança ela passou a reunir-se todas as sextas feiras com mais 11 bruxas e o demónio e diz a lenda que os 13 se juntavam para rogar pragas aos humanos. É por tudo isto que abrir um chapéu de chuva dentro de casa, partir um espelho, passar por baixo de uma escada ou cruzar- se com um gato preto, actos que se costuma dizer que dão azar, hoje são duplamente «perigosos«. Até porque a deusa Friga pode andar por aí. Lusa (13 Set / 9:27)

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