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21-05-2014

UA: Crianças que estudam música têm melhores notas a Matemática.


As crianças que estudam música apresentam melhores desempenhos a matemática comparativamente às que não têm lições musicais. ...

As crianças que estudam música apresentam melhores desempenhos a matemática comparativamente às que não têm lições musicais. Pioneiro em Portugal, o estudo realizado na Universidade de Aveiro (UA) conclui ainda que quanto maior for o número de anos de aprendizagem musical melhor é o desempenho matemático, nomeadamente na área da Geometria.

A investigação, que envolveu a análise do percurso escolar do 7.º ao 9.º ano de escolaridade de 112 alunos (dos quais 62 estudam música) de norte a sul do país, vai ainda mais longe e sugere que, entre os pequenos músicos, os alunos de teclado são aqueles que alcançam melhores notas a matemática.

A investigação desenvolvida por Carlos dos Santos Luiz, no âmbito da tese de Doutoramento realizada no Departamento de Educação da UA, destaca o facto de a associação entre aprendizagem musical e performance matemática permanecer evidente mesmo após a remoção das diferenças entre alunos ao nível da inteligência e do nível socioeconómico. Demonstra-se, assim, a aptidão preditiva das lições de música no desempenho matemático sem a interferência destas duas variáveis potenciadoras do desempenho académico. “Constatámos, ainda, que é possível prever o desempenho matemático a partir do raciocínio espacial, raciocínio este especialmente desenvolvido pelos estudantes de música”, aponta Carlos dos Santos Luiz que acrescenta que “as capacidades espaciais melhoradas têm um contributo importante no desempenho a matemática, assim como em áreas da ciência, tecnologia e engenharia”.

Sabendo que a leitura de música e a aprendizagem de um instrumento envolvem e propiciam o desenvolvimento de capacidades espaciais, o investigador analisou também a associação entre o tipo de instrumento musical, o raciocínio espacial e o desempenho a matemática. “Observei que os alunos de instrumentos de teclado apresentam tanto um desempenho matemático quanto um raciocínio espacial superiores aos alunos de outros instrumentos musicais”, aponta o investigador que lecciona há 20 anos na Escola Superior de Educação de Coimbra.

Se a prática instrumental requer a integração de vários sistemas sensoriais, tais como o auditivo, o visual e o motor, “no caso dos instrumentos de teclado, a disposição espacial do próprio teclado permite a representação visual das relações intervalares entre as alturas de som que, por sua vez, têm correspondência com a geometria da música escrita”. A configuração física do teclado “reforça, assim, a importância de conteúdos matemáticos”.

Sobre a influência que a aprendizagem de música tem no cérebro dos jovens a ponto de lhes proporcionar um melhor desempenho matemático, Carlos dos Santos Luiz aponta que “no âmbito da neurociência da música, as tecnologias imagiológicas e eletrofisiológicas permitem verificar diferenças anatómicas e fisiológicas entre músicos e não músicos ao nível do encéfalo”. Assim, “a aprendizagem musical precoce é o principal factor para a maioria das diferenças verificadas”. O autor sublinha que a partir de estudos já realizados, tanto na área da cognição musical como na do processamento matemático, é possível estreitar a ligação entre música e cognição matemática. “No caso concreto do processamento e percepção musicais, os não músicos evidenciam um domínio hemisférico cerebral direito, ao passo que os músicos demonstram um domínio hemisférico cerebral esquerdo”, aponta o investigador. Neste contexto, diz, “os estudos destacam a anatomia e a fisiologia de certas áreas cerebrais com representação mais lateralizada à esquerda, nomeadamente o lobo temporal (áreas auditivas), assim como o lobo parietal (em vários locais) e o lobo frontal (córtex pré-frontal) dos músicos”.

De modo semelhante, determinados processos matemáticos acedem a áreas no hemisfério esquerdo, como o lobo parietal. Para além do córtex parietal, os estudos relatam também uma activação cerebral no córtex pré-frontal. “Supõe-se que, se a música e a matemática utilizam as mesmas áreas corticais, a prática da primeira poderá influenciar a segunda. Adicionalmente, alguns autores observaram a proximidade de regiões do cérebro para a música e processamento espacial”, diz.


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