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15-10-2013

Investigador da UA desenvolve software que prevê perdas humanas e económicas devido a sismos.


O software é único no mundo, dá pelo nome de 'OpenQuake' e, para além de determinar o risco sísmico, antevê ainda as perdas humanas ...

O software é único no mundo, dá pelo nome de 'OpenQuake' e, para além de determinar o risco sísmico, antevê ainda as perdas humanas e económicas resultantes de um tremor de terra que ocorra em qualquer ponto do planeta.

A aplicação desenvolvida pelo investigador Vítor Silva da Universidade de Aveiro (UA), no âmbito do projecto Global Earthquake Model, já calculou mesmo que um sismo de magnitude 8, com epicentro no local que desencadeou o Terramoto de Lisboa de 1755, provocaria hoje mais de 10 mil mortes e uma perda de 30 por cento do PIB nacional.

O 'OpenQuake' é um dos resultados mais importantes da parceria público-privada iniciada em 2006 pelo Fórum Global de Ciência da OCDE que, através do projecto Global Earthquake Model, juntou dezenas de instituições internacionais no desenvolvimento de bases de dados e ferramentas de avaliação do risco sísmico em todo o planeta.

As potencialidades do inovador sistema de previsão já chamam a atenção do mundo científico. A aplicação desenvolvida por Vítor Silva, do Departamento de Engenharia Civil da UA, e ao abrigo das parcerias criadas pela Global Earthquake Model, foi usada recentemente em parceria com o United States Geological Survey, a instituição americana que estuda a topografia da Terra, os recursos energéticos e os desastres naturais que ameaçam o planeta, para estimar as perdas humanas anuais para cada país do mundo. Os resultados indicam que é no sudoeste Asiático e no Médio Oriente que se concentram os países onde o número anual de mortes derivadas de sismos é elevado e, por isso, é aí que os apoios financeiros, de instituições como a União Europeia ou o Banco Mundial, para reforço dos edifícios devem ser prioritários.

O 'OpenQuake' está ainda a ser utilizado pelo 'PRISE' numa plataforma de cálculo de perdas em tempo real. Trata-se de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia que, para além da UA, envolve várias instituições e que tem como principais objectivos o cálculo de perdas materiais e humanas em edifícios residenciais em Portugal. “Quando este projecto terminar daqui a um ano, caso ocorra um sismo em qualquer parte do país, será possível numa questão de minutos, estimar quais as zonas do território mais atingidas e que, consequentemente, merecem especial atenção e meios de suporte”, antevê Vítor Silva.

Para efectuar as previsões, a ferramenta necessita apenas da introdução de algumas informações, (dados sobre as placas tectónicas e falhas geológicas da área geográfica que se pretende analisar; a localização, valor e número de ocupantes dos edifícios aí situados; informações sobre a qualidade da construção e estado de conservação dos imóveis na zona em investigação).

As previsões que se seguem servem para indicar a Governos, cientistas e à população em geral qual vulnerabilidade sísmica de determinada área, seja ao nível de um país, de uma cidade ou até mesmo de uma rua, e a urgência ou não de se tomarem medidas preventivas que minimizem o número de mortes e os prejuízos económicos resultantes de um terramoto.

“O OpenQuake é uma plataforma open-source (de acesso livre) para o cálculo da perigosidade e do risco sísmico”, explica Vítor Silva. O investigador da inovadora ferramenta aponta que esta “permite calcular a distribuição das perdas e danos para um cenário específico da ação sísmica, ou das perdas acumuladas devidas a todos os eventos sísmicos que podem ocorrer numa determinada região num dado período de tempo”.

A determinação do risco sísmico pelo 'OpenQuake', explica o investigador, “depende principalmente das componentes perigosidade sísmica, exposição e vulnerabilidade”. A última componente “assume particular importância, na medida em que uma eventual intervenção ao nível do reforço estrutural pode ter influência directa na redução do risco sísmico associado”. Perante os resultados obtidos, avisa Vítor Silva, “os donos dos edifícios podem decidir ou não fazer obras de reforço sísmico, obras essas que podem fazer a diferença entre um edifício ficar intacto ou destruído e subterrar pessoas se o abalo de terra acontecer”.

Para estudar o comportamento dos edifícios portugueses em cenários sísmicos, Vítor Silva recolheu, junto de várias instituições públicas nacionais, dados sobre as construções dos últimos cem anos, nomeadamente sobre os materiais, técnicas de construção usadas e valor patrimonial. No 'OpenQuake' juntou ainda o actual número de ocupantes de cada um dos edifícios, números que encontrou no último Census, e os registos das falhas tectónicas capazes de influenciar o território nacional. O resultado deu origem a mapas onde se conseguem ver, ao nível das Freguesias nacionais, as perdas esperadas. “Consigo identificar que as zonas de maior risco sísmico são as situadas à volta do Vale do Tejo, mais concretamente as zonas de Lisboa, Santarém e Setúbal, e no Algarve, mais propriamente na parte mais a oeste”.

Comparando os dados do Censos de 2001 com os de 2011, Vítor Silva observa “um decréscimo do risco sísmico a nível nacional mas há, igualmente, um ligeiro aumento para o Vale do Tejo e Algarve porque os edifícios, apesar de serem construídos cada vez mais resistentes, existem em maior número”.

“E é claro que um grande sismo irá acontecer mais cedo ou mais tarde em Portugal e o cenário para Lisboa e Algarve será bastante desastroso”, alerta Vitor Silva. No atual cenário nacional, com o tipo de construção existente sem as necessárias obras de reforço sísmico para muitos edifícios, o 'OpenQuake' antevê que se ocorrer um sismo como o de 1755 isso representaria mais de 10 mil mortos e 30 por cento do PIB perdidos.

O 'OpenQuake' foi desenvolvido por Vitor Silva no âmbito do Doutoramento em Engenharia Civil orientado pelo investigador da UA Humberto Varum.


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