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10-11-2011

Ministério Público quer trazer novas escutas ao processo “Face Oculta”.


Armando Vara foi ouvido em Tribunal no âmbito do julgamento do processo Face Oculta. O antigo governante e antigo gestor bancário ...

Armando Vara foi ouvido em Tribunal no âmbito do julgamento do processo Face Oculta. O antigo governante e antigo gestor bancário admite que travou conhecimento profissional com Manuel Godinho, o principal arguido do processo, mas nega qualquer influência em concursos. Da parte do Ministério Público surge a intenção de trazer novas escutas ao processo.

O MP quer puxar de um trunfo que tem na manga para fazer prova em julgamento da “capacidade” que Armando Vara tinha “influenciar” decisões políticas.

Embora afastado do Governo e da actividade partidária no PS, terá saído em socorro de negócios do empresário Manuel Godinho com a REFER, muito abalados desde o processo conhecido como “Carril Dourado”, relacionado com a apropriação indevida de materiais.

O procurador João Marques Vidal pretendeu fazer ouvir no tribunal que está a ajulgar corrupção, entre outros crimes, escutas que não fazem parte dos autos, tudo indica envolvendo o ex-vice-presidente do BCP Millenium e Cardoso dos Reis, antigo presidente da CP. A conversa, de Junho de 2009, andaria em torno de uma alegada tentativa da ex-secretária de Estado Ana Paula Vitorino de demitir o responsável da empresa pública.

O requerimento foi contestado logo por advogados de defesa, incluindo o de Armando Vara. “É uma modificação inaceitável das regras a meio do jogo, que põe em causa a igualdade das partes”, disse Tiago Rodrigues Bastos.

Atendendo ao adiantado da hora, e como ainda havia tomadas de posição por ditar, o juiz-presidente, Raul Cordeiro, decidiu terminar a audiência, retomando no mesmo ponto quinta-feira de manhã, aguardado-se pelo seu despacho.

Armando Vara já tinha negado, no seu depoimento, que durou todo o dia, “qualquer intervenção” para afastar o presidente da REFER, Luis Pardal, e a ex-secretária de Estado dos Transportes.

“É uma acusação absurda, sem fundamento de prova, se digo que não falei com eles e eles dizem que nunca falaram comigo”, repetiria à saída do tribunal, indignado por o MP persistir em não aceitar os seus argumentos.

A alegada conspiração terá sido o prato forte de um almoço a 20 de Junho de 2009, no Furadouro, em Ovar, em casa do empresário Manuel Godinho e ainda com a presença de Lopes Barreira, também arguido, gestor e consultor tido como muito próximo do PS, igualmente referenciado por ter feito abordagens junto do ex-ministro Mário Lino para destituir Ana Paula Vitorino e até de José Sócrates.

Numa escuta, Lopes Barreira dava conta disso mesmo a Manuel Godinho mas pedia para que Armando Vara, “o nosso amigo” como era também identificado, “não soubesse” do que preparava.

O ex-vice-presidente do BCP Millenium viu aqui a sua defesa, admitindo que o seu nome, e pretensa influência, pudessem ser invocados por terceiros, garantindo que, pela sua parte, limitou-se a sugerir uma audiência na REFER para “tentativa de reconciliação”. Cenário tanto mais “absurdo”, porque  aproximavam-se eleições legislativas e o ministro “até já tinha dito que ficava”.

A investigação refere que o alegado cabecilha da “rede tentacular” distribuiu envelopes pelos bons ofícios aos convidados com 25 mil euros cada. Armando Vara negou. Tratava-se, disse, de cópia do acórdão da Relação do Porto favorável às pretensões da empresa O2 na contenda com a REFER, exibido por Godinho como um troféu abonatório.

Negou também quando confrontado, pelo juiz-presidente, com uma conversa, em que o empresário usou a expressão “25 quilómetros”, que o MP traduziu como calão própria de subornos.

“É para depois, a gente fala”, limitou-se Armando Vara a responder no telefone. No tribunal, explicou que na altura não sabia a que se referia o ´sucateiro´, mas ao recordar a escuta admitiu que fosse “gíria para contos”, encontrando como única explicação uma proposta que o BCP fizera para o universo empresarial de Manuel Godinho figura como cliente, no âmbito de operação de financiamento, em que teria de depositar com 250 a 300 mil euros.

Um acordo que nunca chegou a ser formalizado, já que o banco deparou-se, entre outras falhas, com contabilidade desorganizada e, portanto, incapaz de avaliar os riscos da atribuição do crédito pedido.

Texto: Notícias de Aveiro

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