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21-07-2011

"Forças ocultas numa sociedade distraída" por D. António Marcelino.


De vez em quando somos publicamente surpreendidos por notícias variadas que nos deixam perplexidades, desconfianças e até fundados ...

De vez em quando somos publicamente surpreendidos por notícias variadas que nos deixam perplexidades, desconfianças e até fundados receios. O mundo das pessoas não é transparente e os interesses em campo entrechocam-se. Há sempre vítimas destes jogos escuros. São os mais fracos, pessoas e países, os que, numa vida de muitas dificuldades, tentam sobreviver, sem que saibam depois quem lhes põe pedras no caminho ou mesmo quem lhes fecha o caminho para que não possam ir mais longe.

Quando tudo se passa às claras há sempre alguma possibilidade de prevenção e de defesa. Não, porém, quando se cultiva o secretismo e, à superfície, não aparecem senão boas intenções, propaladas competências e mesmo gestos de solidariedade. Normalmente gestos vistosos e publicitados de muitas maneiras. Em sociedades democráticas, nas quais ninguém deverá recear ninguém, o secretismo é incómodo e preocupante, mesmo que não se consigam vislumbrar os contornos das manobras em campo.

Há pouco tempo foi a maçonaria que veio ao de cima e deixou muita gente confundida sobre a sua influência oculta ou pública, nos seus aderentes, nos meios determinantes do governo, nos projectos insinuados e promovidos, na vida do país em geral. O secretismo aconteceu noutras forças sociais, mas hoje não se justifica. Os códigos secretos, ainda que sejam meramente iniciáticos, deixam-nos sempre a pensar no que se passa para além do que revelam e do que se diz. Os partidos comunistas deixaram de meter medo, quando terminou a sua clandestinidade obrigatória. Agora os seus objectivos e projectos são públicos, os confrontos sociais têm o seu sentido e há espaços de diálogo possível, sempre úteis, mesmo que não se consigam resultados espectaculares. É legitimidade democrática e o respeito mútuo o grande apelo da convivência sem medos, nem desconfianças.

De tempos a tempos fala-se, sem grande alarde, do Club Bilderberg, a propósito dos convidados, políticos e jornalistas, normalmente, que não passam do pórtico das simpatias. As sessões dos membros são à porta fechada, o mais sigilosas possivel, com casa vigiada a pente fino e sem ninguém por perto. Nestas sessões só os magnatas mundiais, à volta de cem, de vários países, fruto de uma selecção de alto rigor. Nelas se determinam as grades linhas da política e da economia que vão reger a sociedade a nível mundial. “Um governo invisível e omnipotente que comanda os fios controladores, a partir da sombra desde o governo dos Estados Unidos da América, à União Europeia, às Nações Unidas, à Organização Mundial da Saúde, ao Banco Mundial, ao Fundo Monetário Internacional e a qualquer outra organização similar, tudo em nome dos projectos futuros da Nova Ordem Mundial”. À medida do poder que prevalece. Ali se eliminam uns e se promovem outros, se apaga e se incendeia ao mesmo tempo, sem que se possa ver a mão e o rosto de quem o faz. Também são gestos de solidariedade internacional, e por estes se confortam muitos daqueles que antes foram arruinados.

Portugal, tal como sabemos e sentimos, está agora na ribalta. Os mais pequenos e mais fragilizados, ontem como hoje, sempre estiveram na mesa das decisões, à distância, dos grandes e dos poderosos. Há dependência, que se podem sacudir e evitar. Outras têm consigo açaimos e grilhões. Se nos dividirmos cá dentro – há manobras comandadas nesse sentido – seremos mais facilmente vencidos. Se, porém, para além das ideologias que podem dividir, deitarmos mão da força interior que a todos nos toca e é a grande riqueza de todos e para todos, ainda que com sacrifícios pessoais e de grupos, demoras e dores, o êxito final será sempre de quem não desiste, sabe o que quer, luta pelo bem comum, integra riquezas e esforços os mais diversos, persiste no caminho.


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