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15-09-2004

António Cardoso e António Candeias dupla de sucesso


Arbitragem - Futsal

É uma dupla de respeito no panorama nacional da arbitragem, nomeadamente como árbitros de Futsal, onde fazem parte da primeira categoria nacional. António Cardoso, pelo seu vasto curriculum, dispensa apresentações. Natural de Vouzela e a residir em Águeda, aos 40 anos já atingiu quase tudo o que se pode alcançar na arbitragem. Apenas lhe falta estar presente num campeonato do Mundo. De resto, por três anos consecutivos foi considerado o melhor árbitro a nível nacional e, desde 1998, que é árbitro da FIFA, tendo apitado 123 jogos internacionais. Instrutor da FIFA desde 2001, fez parte da organização do Euro/2004, esteve presente em dois campeonatos da Europa; quatro presenças da Taça dos Campeões Europeus, uma Taça das Taças, um Mundialito e em vários torneios internacionais. Em sete finais da Taça de Portugal e SuperTaça apitou seis e cinco vezes, respectivamente, sem esquecer que tem o curso de treinador de futebol e futsal, ambos nível I. António Candeias iniciou o segundo ano a fazer dupla com o melhor árbitro português. Conta 36 anos, nasceu em Águeda, reside em Oiã, e mostra-se motivado para fazer sempre mais e melhor. Influenciado e motivado pelo seu pai, Francisco Augusto Santos, que foi auxiliar de Raul Ribeiro, o gosto pela arbitragem depressa se “entranhou” no seu corpo. Iniciou-se na época de 1996/97, logo foi o primeiro classificado da segunda categoria e, na época seguinte, fazendo dupla com Canas Alves, subiu à primeira categoria, onde se mantém actualmente. Esta dupla tem objectivos e uma grande forma de sentir e de estar na arbitragem. Na longa entrevista que ambos concederam a Bairrada Desportiva, passaram a pente fino a experiência que têm vivido, numa espécie de passado, presente e futuro. IMAGEM IRREPREENSÍVEL A nossa conversa começou com António Candeias. Viu o pai apitar, ia com ele todos os fins-de-semana aos jogos, quis-lhe seguir as pisadas. Conseguiu. Instado a comentar o que o tem mantido na arbitragem, António Candeias disse: “Não pelo valor que se pode ganhar, mas pelo hobby e prazer da modalidade”. Há oito anos ligado à arbitragem, a pergunta Pontos positivos e negativos? “Logo no primeiro ano, de entre 45 árbitros, fui o primeiro classificado da segunda categoria. A partir daí tenho feito jogos com regularidade da 1.ª Divisão. Fomos a última dupla que esteve na nave de Alvalade, numa meia-final da Taça de Portugal, e num jogo da All Football, na Fil, em Lisboa. Os aspectos negativos, as classificações, por vezes, não são compatíveis com o trabalho realizado ao longo da época. De há dois anos para cá esses têm sido os pontos mais negativos”. Passámos o apito para António Cardoso. Árbitro desde o ano de 1990, iniciou a sua actividade como árbitro de futebol de onze. Cinco anos depois, trocou aquela variante pelo futsal. Já lá vamos. Primeiro falou dos motivos que o levaram para a arbitragem: “Pelo facto de viver o fenómeno desportivo e alguma curiosidade e entender todas as facetas do espectáculo”. Mas depressa teve o desencanto como árbitro de futebol de onze? “Tudo por causa de uma classificação que entendi não ser nada consentânea com o que se tinha passado durante toda a época, e que me levou a tomar uma atitude que, na altura, julguei ser um alerta para prevenir situações futuras com outros árbitros, tais como injustiças, ingratidões perante agentes, no caso árbitros que encaram o fenómeno desportivo, com elevação, dignidade, sinceridade. No fundo, as pedras basilares da sociedade, no caso, o desporto”, comentou António Cardoso. A pergunta era obrigatória. Pelo excelente desempenho que tem tido no futsal, não acha que no futebol de onze não podia ser chegado a um patamar idêntico ou superior ao de António Garrido, Jorge Coroado, Vítor Pereira, por exemplo? António Cardoso deu a sua leitura: “Ninguém pode dizer onde poderia ter ou não chegado. Agora, sinto que era melhor árbitro de futebol, pois é mais fácil apitar ao mais alto nível, se não sentisse que havia manobras extra competição, talvez lá pudesse ter chegado”. E no futsal não acontece? “A tendência é que se venham a aproximar múltiplos factores, e não vamos esperar que isso só aconteça com as coisas positivas. Seria utópico, embora sonhadores, ninguém nos deva privar na totalidade”, sustentou António Cardoso, para logo prosseguir o seu raciocínio: “A questão é que no início da minha carreira no futsal, ainda num estado de pureza e de índices competitivos moderados, onde alguns ideais e valores estavam presentes, criei uma imagem fruto de muito trabalho e dedicação, e talvez algum talento inapto, da qual, hoje em dia, não será fácil dissociar-me”. No futebol, o árbitro internacional já tem outra visão: “Se calhar, difícil é atingir patamares elevados, sabendo que nem sempre são os mais capazes, mas sim os mais bem informados, mas bem relacionados, enfim, gente com outras capacidades”. Uma questão para os dois. A evolução da modalidade e de si próprio como agenda da mesma? António Candeias: “Era uma modalidade nova (futebol 5) sem grandes assistências, sem grande pressão competitiva, onde as “equipas de emblemas” eram poucas. Mas tínhamos outros problemas, como, por exemplo, inexistência de provas distritais, logo poucas partidas arbitradas em formação; muita desorganização nos campeonatos, mais nas equipas. Por tudo isto, também os árbitros viviam as dificuldades ao nível da inexperiência, formação técnica e física. Hoje, o futsal ganhou em termos de exposição, o que traz coisas boas e menos boas para todos, árbitros incluídos. É mais reconhecido, quer nas nuances tácticas, técnicas e regulamentares, o que transporta um acréscimo de problemas relacionados com o aumento da competitividade. No aspecto pessoal a evolução é uma realidade. Mais experiência, capacidades técnicas e mais competência”. António Cardoso: “Se o nosso futsal evoluiu no contexto universal, pela maior abertura e mais intercâmbio além fronteiras, pelo domínio cada vez mais concreto dos seus agentes, condições de trabalho, treino e jogo, também os árbitros vão ganhando mais substrato e solidificando mais as suas faculdades, reflectindo-se em mais e melhores desempenhos. O grande óbice é que se continuem a desenvolver poucos trabalhos de índole técnica, visando o papel do árbitro, assim como o facto de não sermos reconhecidos como usufrutuários das instalações desportivas que nos permitam melhorar os nossos índices”. CANDEIA (S) QUE NÃO O ILUMINOU Para a nova época, tanto um como outro tem as suas ambições. António Candeias anseia por uma época igual à anterior, sem problemas, e a manutenção na primeira categoria. Quer contribuir para que a modalidade seja cada vez mais forte e apitar o maior número de jogos possível. Por sua vez, António Cardoso disse: “Espero arbitrar alguns jogos a nível internacional, atingir elevados níveis de competitividade, isto é, estar presente nas finais. Pretendo manter o meu nome bem alto no contexto nacional e internacional e, naquilo que me for possível, contribuir para o crescimento sustentado da modalidade”. Nunca ninguém se sente realizado na vida. Falta sempre qualquer coisa. A visão de António Candeias: “Totalmente realizado não, nem seria benéfico para mim nem para a modalidade. Olhando para trás um bocadinho, penso que se as coisas tivessem corrido de outra maneira, podia ter chegado a internacional. Não tive ambição e algum arrependimento por isso”. António Cardoso: “Primeiro falta-me ser totalmente feliz em tudo aquilo que está relacionado com a arbitragem. Falta-me estabilidade em termos profissionais, como também concretizar alguns objectivos pessoais, apitar um campeonato do Mundo. Falta-me, sobretudo, capacidade de controlar coisas que não estão sob o meu domínio, porque naquelas que eu sinto poder interventivo, que sejam dependentes do meu esforço e da minha capacidade, a essas não viro a cara e sei que com menores ou maiores dificuldades as consigo contornar”. Manuel Zappa

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