SÃO OS BANCOS QUE PRECISAM DO DEVEDOR E NÃO O CONTRÁRIO

"O empresário Joe Berardo foi salvo pela banca quando três das quatro instituições, a quem devia dinheiro pela compra de mil milhões de euros pela compra de acções do BCP (com menos-valias de 800 milhões), aceitaram uma renegociação altamente favorável ao investidor. Segundo o semanário «Expresso», a Caixa Geral de Depósitos, o BCP e o BES aceitaram prolongar o prazo de pagamento do empréstimo e tomaram como garantia 75% da entidade que gere a colecção de arte, além de outros activos." Notícia IOL de 24/01/09.

Quando se deve tanto dinheiro aos bancos são os bancos que precisam do devedor e não o contrário. É um clássico do pior capitalismo, daquele capitalismo que não produz e que se auto alimenta apenas da especulação.

O que me incomoda não é que o Sr. Berardo tenha calculado mal o seu investimento e tenha comprado acções com dinheiro emprestado a 4,3 euros e que hoje valham cerca de 0,85 euros. Esse é o risco dos especuladores.

O que realmente me preocupa são duas coisas:

A primeira, é como é que se pode dar como garantia uma colecção de arte moderna em exposição no CCB (75% da entidade que gere a colecção é um eufemismo) quando o Estado tem preferência de compra sobre a mesma. Para além de ter fundadas dúvidas se essa entidade (se for uma fundação) possa dispor dos bens para dar como garantia é uma afronta ao povo que pagou não sei quantos milhões para, se calhar, poder ver as peças talvez por um canudo;

A segunda é como foi possível os bancos, entre os quais um do Estado, agora redenominado, como vi num blog, de Santa Caixa da Misericórdia (CGD), avalizar empréstimos sobre acções, que são bens sem garantia objectiva. Ainda por cima parece hoje óbvio que esses empréstimos serviram apenas como armas na guerra de poder no BCP nos finais do ano passado. Tantas preocupações com culpados e justiça mas não ouvi falar sobre quem avalizou estes empréstimos.

António Granjeia*
Director do Jornal da Bairrada

Diário de Aveiro



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