É PRECISO RESPONSABILIZAÇÃO COLECTIVA

O ex-presidente da República Jorge Sampaio disse ontem que Portugal tem de andar depressa na qualificação, evitando o culto da facilidade, para enfrentar os reptos da globalização.

Para Sampaio cabe às universidades “particular responsabilidade” nesta tarefa.

A mensagem, que percorreu boa parte da oração de agradecimento do seu Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro, não é nova, como o próprio salientou em conversa com jornalistas.

“Sobre Educação já falei em todas as direcções e não estou a dizer nada de novo, mas a sublinhar que a batalha continua”, disse.

“Percebemos que temos de encontrar formas de saída para que o nosso nível de qualificação aumente e essa é a mudança crucial para que o país possa progredir”, acrescentou Sampaio, explicando que, já não exercendo funções políticas institucionais, se mantém “vitalmente interessado” nessa “batalha”.

Questionado sobre os recentes casos de violência e indisciplina em algumas escolas, Jorge Sampaio recusou-se a comentar casos concretos.

“Deitemos de lado a espuma. É preciso responsabilização colectiva porque o problema da Educação é o centro do nosso futuro. Sem subir de patamar na qualificação, Portugal não sairá da mediania e essa é a questão essencial”, sustentou.

Já durante a cerimónia, Jorge Sampaio havia insistido no tema, considerando que a sociedade deste século será moldada por três matérias-primas: o conhecimento, a criatividade e a inteligência”.

No entanto, o ex-chefe de Estado deixou algumas advertências: “importa pensar a qualificação académica não como mera ferramenta de ingresso no mercado de trabalho, mas sobretudo como instrumento forjador de uma consciência cívica e cultural, que proporcione competências de acção e de compreensão do mundo”.

Jorge Sampaio vincou ainda a “necessidade urgente de erradicar certos traços de uma cultura antiga mas persistente, que combina apatia cívica e desconfiança nas instituições, falta de rigor crítico e preguiçosa desresponsabilização, imobilismo corporativo e subserviência ao poder”.

Avesso “ao campeonato das lamúrias”, Sampaio afirmou a aposta na capacidade do cidadão.

Defendeu, no entanto, que cabe ao Estado definir as grandes linhas estratégicas e estruturais, que só serão mobilizadoras estimulando a auto-estima e a capacidade própria de vencer dificuldades.

“Num país mais dado à demagogia das emoções do que à serenidade da razão, só serão mobilizadoras dos cidadãos se delas se sentirem co-proprietários, condóminos e parceiros”, salientou.

O Doutoramento Honoris Causa de Jorge Sampaio foi apadrinhado por Júlio Pedrosa, presidente do Conselho Nacional de Educação, que destacou a vida do homenageado como “doutor universitário em plenitude, cultivador da cidadania activa, praticante de humanidade, feitor de Ciência Política e construtor da democracia e da liberdade, em Portugal e no Mundo”.

A reitora da Universidade de Aveiro citou a proposta aprovada por unanimidade e aclamação pelo Senado para a outorga do Doutoramento a Jorge Sampaio, nomeadamente dando destaque ao “percurso invulgar e excepcional no âmbito da missão e de valores de referência da Universidade, como a educação a ciência e a inovação, a multiculturalidade e a lusofonia, a cidadania e o desenvolvimento humano”.

Diário de Aveiro


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