AS EMBARCAÇÕES SÃO BENS CULTURAIS

As embarcações tradicionais de mar portuguesas estão quase extintas e da riqueza cultural que representam Portugal já só tem fotografias para mostrar, alertou hoje João Batista, da Associação de Embarcações do Norte.

Falando na assinatura de um protocolo entre a Região de Turismo "Rota da Luz" e a Federação Galega pela Cultura Marítima e Fluvial, João Batista revelou que, em dez anos, após a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, 96 por cento da frota portuguesa com menos de 12 metros foi abatida.

"As embarcações são bens culturais, mas quem vem de fora em busca dessa memória não a encontra. Da riqueza das embarcações tradicionais portuguesas, temos hoje as fotografias e quando desaparece um barco, desaparece um conjunto de artes e ofícios a montante e a jusante", comentou João Batista, fazendo o contraponto com a Galiza, "onde há centenas de embarcações recuperadas".

Fernando Pinheiro, da Federação Galega, explicou que o problema também foi sentido na Galiza, o que levou à criação de cerca de 40 associações nos núcleos marítimos, hoje reunidas na Federação, "para a reabilitação do rico património marítimo e fluvial".

"Para nós, olhar agora a sul, é aprofundar a cultura comum", disse, referindo-se ao protocolo com a "Rota da Luz", cujos contactos foram aprofundados após a participação, há dois anos, de um barco moliceiro no VII Encontro de Barcos Tradicionais, realizado em Cambados, pela Federação Galega e que foi "uma visão espectacular".

A Federação Galega pela Cultura Marítima e Fluvial e a Associação de Embarcações do Norte estão a colaborar com a Região de Turismo na preparação do I Encontro Internacional de Embarcações Tradicionais, a decorrer em Aveiro entre 23 e 29 de Julho, com o objectivo de "ampliar a dimensão da Regata do Moliceiro, criando um contexto mais abrangente de participações", como explicou o presidente da "Rota da Luz", Pedro Silva.

O I Encontro Internacional de Embarcações Tradicionais insere-se num dos objectivos do protocolo, que é a promoção de manifestações marítimo-fluviais de carácter internacional.

O documento hoje assinado alude também a "acções tendentes ao reconhecimento pela UNESCO do património náutico singular", numa altura em que Aveiro prepara a candidatura do barco moliceiro a Património da Humanidade.

Fazendo o ponto de situação em relação a esse processo, Pedro Silva revelou que a candidatura deverá ter "uma imagem mais transversal", integrando o moliceiro com as salinas e a Ria.

"Creio que, ao moliceiro, deverá ser adicionado o habitat e é nesse contexto que a UNESCO se prepara para dar parecer positivo ao início do estudo", disse.
Diário de Aveiro


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