O Rotary Club de Oliveira do Bairro promoveu, no último sábado, no Hotel Paraíso, um almoço de Reconhecimento ao Mérito Profissional em homenagem ao “exímio executante de saxofone”, Martinho Martins Ferreira, 88 anos, setenta dos quais dedicados à arte dos sons. Alguma música e poesia Esta festa serviu concomitantemente para o Rotary local festejar 16 anos de vida (feitos no dia 26 de Abril) e cumprir um dos compromissos/ actividades, incluídas no Plano Director, que é realçar deste modo figuras do concelho que mereçam ser reconhecidas, em qualquer área, pelo seu exemplo. Marcaram presença, para além dos rotários do clube, os clubes de Águeda e de Coimbra, Laura Pires, vereadora da câmara municipal, presidentes das juntas de Oliveira do Bairro e Troviscal, respectivamente, Alberto Ferreira e Adelino Cruz, e o representante da junta de Bustos, Manuel Gomes, músicos, alguns que tocaram ao lado de Martinho Martins e outros que entraram em muitos despiques por esses arraiais além, como elementos do Rua de Além, de Assequins, Águeda, capitaneados por outro grande músico, Américo Fernandes. Também familiares e amigos e até uma admiradora que muito dançou ao som da música de “Os Perus”, que eram êxito em qualquer parte do país. Dia de festa e de gratidão, não faltou quem, em honra do homenageado, soltasse notas (Henrique Portovedo, saxofonista, que todos os dias entra em casa das pessoas, através do Portugal no Coração da RTP e lhe dedicou a valsa Vanité de que Martinho Martins tanto gostava) e cantigas (Azevedo e Jorge Micaelo) e ainda poesia (Rosa Olinda). “Precisamos destes exemplos” O “discurso de fundo”, segundo anunciou o mestre de cerimónias Domingos Lima, pertenceu a Silas Granjo que, durante alguns minutos, mostrou fotografias relativas aos “Perus”, ao mesmo tempo que ia fazendo a história de Martinho, “músico extraordinário” e do jazz, cujas histórias se completam “Estas duas entidades quase se confundem”, disse. Relevou prémios e actuações deste “popularíssimo músico” que “constitui uma referência obrigatória”, sendo de assinalar, inclusivamente, os convites para actuar em Angola e Moçambique, porque neste torrão à beira-mar plantado, era êxito assinalável, de tal modo que era presença também no Rádio Clube Português, para além das festas e romarias. Laura Pires, que fez já parte deste clube, falou da sua paixão pela música, mas sobretudo salientou a qualidade e a excelência de pessoas como Martinho Martins, que existem no concelho e que constituem uma referência para as gerações actuais e vindouras. “Precisamos destes exemplos” que é necessário proclamar, pois que “a gratidão é um sentimento que devemos praticar, não a lamechice”, salientou. Em nome do pai, falou o filho, Adelino Martins, para relevar uma “gratidão emocionada” e para dizer que o pai entende que nada fez para merecer esta homenagem, mas que, no fundo, tudo se fica a dever, por um lado, “ao grande maestro José de Oliveira, o homem providencial que trouxe luz a esta terra” (Troviscal); por outro, a todos os que com ele actuavam, pelo que desejava repartir aquela homenagem com todos os companheiros. “Podemos orgulhar-nos” Já o presidente do Rotary Clube de Oliveira do Bairro, Acácio de Oliveira, agradeceu a quantos quiseram estar presentes nesta acontecimento que “não é uma coisa ao acaso” - é uma coisa que consta do Plano Director - a homenagem a personalidades que se distingam pelo seu passado, pelo seu mérito, pela sua dedicação, pela sua forma de estar, afinal, os que são referência e exemplo, era o caso... “Podemos orgulhar-nos de termos homens como Martinho Martins” , frisou, porque, afinal, o Rotary “está atentos às pequenas grandes coisas” e o seu desejo é que fiquem gravadas para a posteridade. Falou ainda do lema rotário deste ano - “mostremos o caminho” e isso é aquilo de que “por vezes precisamos... de alguém que nos leve pela mão. No final o Rotary ofereceu a Martinho Martins, sempre muito comovido, pela mão do seu presidente, a placa de Reconhecimento ao Mérito, onde se lê: “atribuído ao Músico Martinho Ferreira Martins, pela adopção de altos padrões de ética, pelos níveis de excelência profissional, de humanismo, altruismo e espírito de sacrifício demonstrados, pelos serviços meritórios prestados a esta comunidade e pela permanente disponibilidade para “dar de si antes de pensar em si”. caixa Bilhete de Identidade Martinho Ferreira Martins, um virtuoso do saxofone, nasceu, no dia 12 de Abril de 1919, no lugar da Feiteira. Desde muito cedo mostrou vocação e talento para a música. Inicialmente deu os primeiros passos na Banda Juvenil do Troviscal, onde começou a ser estrela e depois na Banda Escolar, onde chegou a tocar com o seu pai e seu irmão, Floro. Por vezes, ficava sozinho no coreto, puxando do seu saxofone e fazendo saltar notas que embeveciam multidões que viam no miúdo um verdadeiro talento. Com o desaparecimento da Banda, surgia o grupo musical “Os Perus”, onde Martinho foi um destacado elemento. Como saxofonista de eleição, participou em vários concursos, nomeadamente em Aveiro, no ano de 1951. Foi premiado, muito aplaudido e viveu o seu primeiro grande momento de glória. Muitas pessoas subiram ao palco do Teatro Avenida e transportaram-no em ombros. Com a Orquestra “Os Perus” venceu vários certames, realizados um pouco por toda a região da Bairrada e pelo país (Minho, Beira Baixa, Beira Alta, interpretando a solo as famosas kzardas de Monti, “o voo do moscardo”, “Vanité”, de autor francês, ou o “Carnaval em Veneza”. Profundamente ligado à música, exerceu a arte durante 70 anos ininterruptos quer tocando, quer ensinando crianças e jovens. Tinha uma grande paixão pela música. Muitos músicos que integraram várias jazzes tinham passado pelas suas mãos. Martinho Ferreira Martins, por ser figura que fez época, na arte dos sons, foi distinguido pela câmara municipal de Oliveira do Bairro, com a Medalha de Mérito Cultural, no dia 12 de Junho de 2003.
Armor Pires MotaDiário de Aveiro |