A Clínica Central de Oiã, Oliveira do Bairro, que há anos pratica abortos legais em Portugal, não pretende aproveitar a prevista despenalização da interrupção voluntária da gravidez para expandir as suas actividades, disse hoje o seu responsável. Amílcar Pereira, administrador da clínica, manifestou à Lusa a convicção de que a despenalização do aborto resultante do referendo não irá alterar substancialmente o movimento actual da unidade que dirige. "Não alterará muito o quadro e essa não é uma área a desenvolver. Não nos entusiasma. Temos investimentos previstos, mas não relacionados com essa área. São sobretudo na fisioterapia e nos cuidados paliativos e continuados", esclarece. Com fama de praticar o aborto há largos anos, a Clínica de Oiã tem assumido a realização de interrupções da gravidez desde que a legislação portuguesa o passou a admitir, garantindo o cumprimento da Lei. Segundo dados divulgados por Amílcar Pereira, anualmente têm sido ali praticados pouco mais de 500 abortos, não sendo esta a principal actividade da Clínica. "A clínica é multidisciplinar e temos muito movimento nas áreas da ortopedia e da cirurgia, bem como dos cuidados continuados e paliativos", esclarece o administrador. Tal como não antevê que a futura lei venha a criar um acréscimo de movimento relevante, Amílcar Pereira também não teme que a abertura de clínicas espe ializadas façam a de Oiã cair em declínio. "Quando abriu uma clínica privada em Aveiro também não fomos muito afectados", comparou. Amílcar Pereira disse ter ficado "surpreendido" com a vitória do "Não" na freguesia, no referendo de domingo. Em Oiã, no referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, votara m 2434 dos 5782 eleitores inscritos, tendo o "Não" obtido 1549 votos (65,25 por cento), contra 825 votos pelo "Sim"(34,75 por cento). "Fiquei surpreendido. Não me passava pela cabeça este resultado e não percebi", disse o administrador. Aquele médico recusou a leitura de que o resultado possa traduzir algum a hostilidade da população para com a clínica que administra, localizada num concelho conservador como é Oliveira do Bairro, pelo facto de ali se praticar o aborto. "Os habitantes de Oiã usam a clínica noutras áreas e penso que sentem que temos um impacto positivo, até ao nível do emprego e do comércio local", sublinhou.Diário de Aveiro |