AVEIRO NA ROTA DAS ANTAS, LUZ E ESTUGARDA

O Estádio Municipal de Aveiro vai entrar sábado para a história do futebol português como o palco de novo apuramento para uma fase final, juntando-se às Antas (Porto), à Luz (Lisboa) e ao alemão Neckarstadion (Estugarda).

Salvo um enorme cataclismo, um desaire face ao Liechtenstein, o recinto do Beira-Mar passará a ser lembrado como o que acolheu o encontro que colocou Portugal na fase final do Mundial2006, agendado para a Alemanha, de 09 de Junho a 09 de Julho.

Aveiro está, assim, prestes a juntar-se ao Estádio das Antas, que acolheu o jogo do apuramento para o Mundial de 1966, o Estádio da Luz, palco dos embates que garantiram a qualificação para os Europeus de 1996 e 2000 e o Mundial de 2002, e o Neckarstadion, onde a formação das "quinas" garantiu um lugar no Mundial de 1986.

As "demolidas" Antas acolheram o jogo da primeira grande alegria da selecção nacional: a 31 de Outubro de 1965, Portugal, que somava por vitórias os quatro encontros realizados, apenas precisava de empatar na recepção à Checoslováquia.

Com um "onze" que incluía sete jogadores do Benfica, entre eles o "rei" Eusébio, a formação comandada por Manuel da Luz Afonso soube controlar o encontro e logrou o tão desejado ponto, também com a ajuda do estreante guarda-redes "leonino" Carvalho.

Foi a primeira e única vez que a festa se fez no Porto, já que, desde aí, o Estádio da Luz, pela grandeza dos seus 120.000 lugares, foi invariavelmente o palco escolhido para os jogos que poderiam valer apuramentos, como aconteceu em 1983.

A 13 de Novembro, Portugal recebeu a União Soviética e precisava de ganhar, pouco mais de meio ano após a humilhação de Moscovo (0-5), que motivou a troca de seleccionador (Otto Glória por Fernando Cabrita, auxiliado por Toni, António Morais e José Augusto).

A selecção das "quinas" iniciou o encontro com seis jogadores do FC Porto e quatro do Benfica, mais foi o 11º elemento a decidir:

aos 42 minutos, e após uma falta sobre Fernando Chalana (quase) na área, o "leão" Jordão marcou de grande penalidade o tento luso.

Portugal logrou, assim, o primeiro "passaporte" para um Europeu, numa festa que viria a ser repetida menos de dois anos depois (16 de Outubro de 1985), agora em Estugarda, onde a equipa das "quinas" selou a qualificação para o Mundial do México86.

Depois das agradáveis notícias chegadas da Checoslováquia, onde a formação local batera a Suécia, o "deixem-me sonhar" do "bom gigante" José Torres, então seleccionador luso, começou a ganhar forma e a equipa lusa entrou muito moralizada no Neckarstadion.

Perante uma RFA já qualificada, mas que jamais havia perdido um jogo de qualificação em casa, Portugal tinha ainda o mais complicado pela frente, mas acabou heroicamente por ganhar, graças a um "golão" de Carlos Manuel (53 minutos), às defesas de Bento e a uma enorme capacidade de sofrimento, misturada com alguma sorte.

Os "grandes" voltaram a estar em vantagem no "onze" que garantiu a qualificação (nove jogadores), mas, pela primeira vez, outros clubes estiveram representados: o Belenenses, com o estreante líbero José António, e o Boavista, com o central Frederico.

Depois desta qualificação na Alemanha, as restantes três tiveram sempre como palco a Luz, a primeira das quais para o Europeu de Inglaterra96, garantido a 15 de Novembro de 1995 com um triunfo por 3-0 sobre a República da Irlanda, num noite de tempestade.

O "onze" de António Oliveira, com quatro portistas, dois benfiquistas, um "leão" e quatro "estrangeiros", apenas necessitava de um empate, mas ganhou por 3-0, com golos de Rui Costa (grande pontapé fora da área), Hélder e Cadete, todos após o intervalo.

Em 1999, mais precisamente a 09 de Outubro, foi a vez de se festejar o apuramento para o Euro2000: praticamente sem hipóteses de ganhar o grupo 7, Portugal, comandado por Humberto Coelho, necessitava de vencer a Hungria por três golos de diferença para ser o "rei" dos segundos entre todos os agrupamentos e evitar o "play-off".

As coisas começaram da melhor forma para Portugal, de início com três jogadores do FC Porto, dois do Benfica, três "italianos", dois "espanhóis" e um "turco", face aos tentos madrugadores de Rui Costa (14 minutos, de grande penalidade) e João Vieira Pinto (16), mas, ainda na primeira parte (42), Pauleta foi expulso.

Mesmo em inferioridade numérica, a formação das "quinas" chegou, no entanto, ao indispensável terceiro golo - apontado pelo suplente Abel Xavier (então no Everton), aos 58 minutos -, sabendo, depois, guardar a vantagem até ao apito final.

Finalmente, a 06 de Outubro de 2001, Portugal teve o mais fácil jogo decisivo de sempre: bastava ganhar em casa à Estónia e Portugal chegou à goleada (5-0), com tentos de João Pinto, do suplente Nuno Gomes (dois), Pauleta e Figo, este autor de um notável "chapéu".

Nesse embate, a formação comandada por António Oliveira entrou com o Boavista em maioria (Ricardo, Frechaut e Petit) e ainda dois jogadores do FC Porto, outros tantos do Sporting, outros dois "italianos", um "espanhol" e um "gaulês".

Depois de não ter sido preciso jogo de apuramento para chegar ao Euro2004, realizado em Portugal, os festejos já se preparam em Aveiro: o Mundial de 2006 está a um empate de distância e ninguém acredita que o Liechtenstein possa evitar... o inevitável.


- Os jogos que valeram as qualificações:
MUNDIAL DE 1966 (INGLATERRA)
31 de Outubro de 1965.
Estádio das Antas (Porto).
PORTUGAL - Checoslováquia, 0-0.
Carvalho; Festa, Germano, José Carlos e Hilário; Ferreira
Pinto e Coluna; José Augusto, Eusébio, Torres e Simões.
Seleccionador: Manuel da Luz Afonso.

EUROPEU DE 1984 (FRANÇA)
13 de Novembro de 1983.
Estádio da Luz (Lisboa).
PORTUGAL - URSS, 1-0.
Bento; João Pinto, Eurico, Lima Pereira e Inácio; José Luís,
Carlos Manuel, Jaime Pacheco e Chalana (Shéu, 78); Gomes e Jordão
(Diamantino, 73).
Seleccionador: Fernando Cabrita.
Golos: Jordão (42gp).

MUNDIAL DE 1986 (MÉXICO)
16 de Outubro de 1985.
Neckarstadion (Estugarda, Alemanha).
RFA - PORTUGAL, 0-1.
Bento; José António; João Pinto, Frederico, Venâncio e
Inácio; Veloso, Carlos Manuel (Litos, 81), Jaime Pacheco e Mário
Jorge; Gomes (José Rafael, 83)
Seleccionador: José Torres.
Golos: Carlos Manuel (53).

EUROPEU DE 1996 (INGLATERRA)
15 de Novembro de 1995.
Estádio da Luz (Lisboa).
PORTUGAL - República da Irlanda, 3-0.
Vítor Baía (Neno, 85); Secretário, Fernando Couto, Hélder e
Paulinho Santos; Oceano, Paulo Sousa e Rui Costa; Figo, João Pinto
(Folha, 65) e Domingos (Cadete, 65).
Seleccionador: António Oliveira.
Golos: Rui Costa (60), Hélder (74) e Cadete (89).

EUROPEU DE 2000 (HOLANDA E BÉLGICA)
09 de Outubro de 1999.
Estádio da Luz (Lisboa).
PORTUGAL - Hungria, 3-0.
Vítor Baía; Secretário (Abel Xavier, 46), Jorge Costa, Paulo
Madeira e Dimas; Paulo Sousa e Rui Costa (Paulo Bento, 83); Figo, João
Pinto (Sá Pinto, 89) e Sérgio Conceição; Pauleta.
Seleccionador: Humberto Coelho.
Golos: Rui Costa (14gp), João Pinto (16) e Abel Xavier (58).
Nota: Cartão vermelho para Pauleta (42).

MUNDIAL DE 2002 (COREIA DO SUL E JAPÄO)
06 de Outubro de 2001.
Estádio da Luz (Lisboa).
PORTUGAL - Estónia, 5-0.
Ricardo; Frechaut (Nuno Gomes, 40), Fernando Couto, Jorge
Costa e Rui Jorge; Petit e Rui Costa; Capucho (Paulo Sousa, 65), Figo
e João Pinto (Simão, 46); Pauleta.
Seleccionador: António Oliveira.
Golos: João Pinto (30), Nuno Gomes (50 e 65), Pauleta (59) e
Figo (79).

Diário de Aveiro



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