Celebrou-se a 15 de Maio o Dia Internacional da Família, assinalado em várias instâncias até ao mundo da ciência (na Fábrica de Ciência Viva da Universidade de Aveiro). Iniciando-se de 15 a 22 de Maio a Semana da Vida, proporciona este tempo uma oportunidade de reflexão sobre a família? a realidade mais básica, fundante da própria vida de cada um de nós. Em tempos delicados onde por vezes a Defesa da Vida é vista com olhos desconfiados, mas onde todas as permissividades são sintoma de modernismo, será determinante o sublinhar de que a Família é o tesouro fundamental da civilização, e dizer “família” é dizer abertura à Vida. A família, quando fechada em si mesma, não atinge o seu verdadeiro significado? Esta será das áreas que tão urgentemente, se é que ainda vamos a tempo, carece daquele “suplemento de alma” do filósofo Bergson, citado pelo ensaísta Eduardo Lourenço em escrito destes dias. Bergson há cerca de um século fora um dos mais famosos filósofos, e aplicava este conceito de “suplemento de alma” à sua época europeia afogada pelas ideologias, do positivismo ao materialismo. Vivemos, porventura, o tempo em que acabamos por deixar correr a vida? E à custa da “liberdade” tudo é conjugado do mesmo modo, e vamos assim criando o “hábito” em assistir a vidas que, sem navegarem nas suas águas do pensamento mais profundo, acabam por sobreviver “de facto”. Chama-se nomes lindos ao viver de provisório em provisório; procura-se a liberalização para tudo, esquecendo-se que os fundamentais valores que chegam até nós não frutificaram na libertinagem mas na responsabilidade pessoal e social. Os agentes educativos, aqueles que amam a Vida e a Civilização da Paz com fundamentos e do autêntico Amor, vivem preocupados, sem saber com que balizas estruturar as consciências dos seus filhos ou educandos. Na adaptabilidade da família, célula básica da sociedade, tudo acaba por ter lugar, sendo chamada a família de sempre de “tradicional”, com um “cheirinho” de conservadorismo de outras eras. Mergulhados na típica pós-modernidade que rejeita todo o género de instituições (começando pela família) mas sem saber muito bem por onde ir?e quando chegam à ribalta política visões de espectacular nulidade, cada vez mais será cada pessoa, cada casa, cada família, que tem de preservar o tesouro da vida encontrado e saboreado em comum. Ao mais alto nível, cabe perguntar: se não se protege a família vale a pena zelar por quê?! (Serão os ventos poluídos de Espanha o nosso futuro?...) É preciso mesmo re-compreender o sentido autêntico da “liberdade”. O tempo presente é de uma imensidão de desafios para a comunidade familiar e humana. Pensar e assumir uma identidade de quem sabe o que quer será passo fundamental para vencer a onda da contra-educação. É preciso libertar-se, porventura, de visões que acabam por desdignificar o verdadeiro sentido da vida e por isso de tudo o que está em redor, começando pela própria família. A Semana da Vida deste ano 2005 tem como temática: “respeita o outro, diz não à violência”. É objectivo da Comissão Episcopal da Família pelo Secretariado Nacional da Família promover reflexão, conclusões e compromissos sobre: a violência dentro da família; nos domínios legislativo, económico e fiscal; no âmbito laboral; nos Meios de Comunicação Social; na convivência social e no âmbito escolar. Uma reflexão alargada que se justifica pelo facto de serem hoje “crescentes as formas de violência que, em nossos dias, ameaçam a vida familiar”. A violência que pode ser da ordem física mas também psicológica e verbal. A UNICEF estima que, diariamente, 18 mil crianças e adolescentes sejam espancados no Brasil, sendo os acidentes e as violências domésticas causa de 67% das mortes de crianças e adolescentes no país, segundo dados de 1997 Também a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, alarmada por casos recentes da morte cruel de crianças (assunto de praça pública) sobre violência doméstica refere que “o fenómeno incide fundamentalmente sobre a vida e saúde das crianças, idosos, e sobretudo mulheres com sérias e graves consequências não só para o seu pleno e integral desenvolvimento pessoal, comprometendo o exercício da cidadania e dos direitos humanos, mas também para o desenvolvimento económico e social do país.” Na Europa da baixa natalidade e (também não muito alta) identidade cultural em matérias de enraizamento dos valores que supere o humanismo voluntarista, a visão sobre a família também é breve na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, do Conselho Europeu de 7 de Dezembro de 2000: Artigo 7 do segundo ponto sobre liberdades: Todas as pessoas têm direito ao respeito pela sua vida privada e familiar, pelo seu domicílio e pelas suas comunicações. Artigo 9: O direito de contrair casamento e o direito de constituir família são garantidos pelas legislações nacionais que regem o respectivo exercício. E quanto a deveres, compromissos, responsabilidades?... Que dirá sobre a célula da sociedade europeia a Constituição? (Veremos proximamente.) E já agora: Haverá Europa sem autênticas famílias, e uma visão da família - de sempre - com consciência a preservar?! Alexandre Cruz* *Centro Universitário Fé e CulturaDiário de Aveiro |