UA APRESENTA ESTUDO SOBRE SACARRABOS NA PENÍNSULA.

Estudo da UA sobre sacarrabos na Península destacado na “Mammalian Biology”. Já se sabia que o sacarrabos não foi trazido pelos árabes para a Península Ibérica e expandiu-se a partir da população do norte de África, mas um estudo genético da Universidade de Aveiro (UA) agora publicado comprova e explica geneticamente a origem da expansão. O estudo foi realizado a partir de uma tese de doutoramento defendida na UA, com base na análise de ADN mitocondrial, e mereceu destaque na revista “Mammalian Biology”.

A ocorrência de sacarrabos na zona norte do país e não apenas na região sul, como era comum, há algumas décadas, tem vindo a suscitar a curiosidade dos investigadores de ecologia animal sobre esta espécie que existe em África, no Médio Oriente e que, na Europa, só existe na Península Ibérica. Nesse sentido, investigadores da UA procederam ao estudo da genética populacional do sacarrabos de forma a clarificar, em termos evolutivos, quais as consequências dessa expansão.

Já eram conhecidos estudos que mostravam a origem norte-africana do sacarrabos ibérico e que não seria possível a espécie existir na Península apenas a partir do período da presença árabe. Mas o trabalho agora publicado na Mammalian Biology que mereceu fotografia de capa e teve por base a tese de doutoramento de Tânia Barros, com orientação do docente e investigador Carlos Fonseca, permitiu relacionar os padrões genéticos da espécie com a sua expansão registada na Península Ibérica.

Demonstrou-se, explica Tânia Barros, que a recente expansão do sacarrabos moldou os próprios padrões genéticos da espécie em Portugal, revelando que a população de sacarrabos do sul apresenta uma maior diversidade genética, resultados estes que são consentâneos com a presença num tempo mais longo nessa zona de Portugal. A espécie permaneceu durante um largo período de tempo na região sul da Península Ibérica, o que permitiu o aparecimento de nova informação genética nessa população, levando ao aumento da diversidade.

Contrariamente, as populações de sacarrabos amostradas nas áreas do centro e norte do país – que correspondem a áreas recentemente colonizadas pela espécie - apresentam uma menor diversidade genética, panorama consentâneo com o padrão da expansão conhecida desta população.

Adicionalmente, afirma ainda a investigadora, os resultados provenientes das análises genéticas demonstraram que a dispersão da espécie para zonas do centro e norte do país ocorreu a partir de várias “subpopulações-fonte” distribuídas pelo sul do território nacional, levando os investigadores a concluírem que, provavelmente, existem várias rotas de expansão da espécie, através das quais o sacarrabos colonizou os territórios do centro e do norte do país.

O sacarrabos, defende Tânia Barros com base em estúdios anteriores, terá passado do norte de África para a Península Ibérica durante um período da história da Terra em que a distância entre os dois territórios e o nível da água o permitia. Ou seja, durante o Pleistoceno Médio e o Pleistoceno Superior, de 2,5 milhões a 11,5 mil anos atrás, em que se sucederam várias glaciações.

A expansão na Península, nomeadamente em Portugal, terá sido favorecida, acrescenta ainda a recém-doutorada da UA, pelas alterações climáticas, pelo abandono da atividade agrícola em certas zonas, com a consequente expansão do matagal. A taxa de reprodução elevada e uma alimentação variada, embora se saiba que o coelho tem um papel importante na dieta, também contribuem para o alargamento do padrão de distribuição geográfica da espécie.

O estudo intitulado “Mitochondrial demographic history of the Egyptian mongoose (Herpestes ichneumon), an expanding carnivore in the Iberian Peninsula” foi realizado com o contributo de várias entidades e decorreu no âmbito das atividades do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), laboratório associado, e do Departamento de Biologia da UA. Nele participaram também investigadores das universidades de Montpellier e de Évora.

Publicado na Mammalian Biology de março, o trabalho contou com o apoio de inúmeras instituições, nomeadamente do CESAM, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), do Museu Nacional de História Natural de Paris, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, IP). e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Sendo o sacarrabos uma espécie cinegética no território português, este estudo contou ainda com o apoio de vários organismos ligados à caça, como a Federação Portuguesa de Caça (FENCAÇA), a Associação Nacional de Proprietários Rurais (ANPC) e a Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses (CNCP).

A tese de doutoramento de Tânia Barros, “Molecular ecology of the Egyptian mongoose (Herpestes ichneumon) in Portugal: Understanding establishment and ongoing processes of a successful carnivore”, na base deste estudo, foi defendida no final do ano passado.

Texto e foto:UA

 


Diário de Aveiro


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