“ESFORÇO-ME PARA MOSTRAR QUE SOU MAIS QUE UM IMITADOR”

Um homem. Um microfone. Três letras vermelhas. Um ban­co alto com uma toalha e um copo. Seis “pirilampos” laranja no chão. O cenário é simples. O palco está quase vazio. Durante a semana, em conversa telefónica com o Diário de Avei­ro, Luís Franco-Bastos anunciava um “espectáculo de stand-up comedy clássico”. O cenário indicava isso mesmo. Mas o “espectáculo a solo” que tinha sido divulgado não foi bem aquilo que foi apresentado às 700 pessoas que lotaram a principal sala cultural da cidade, para assistir à antepenúltima apresentação do “Roubo de Identidade”. Nada disso. O palco encheu-se de personagens. De vida. De vidas e histórias pautadas pelas inúmeras gargalhadas arrancadas à plateia. Porém, apesar dos bons momentos que proporcionou a quem assistiu, no final, o autor foi confrontado pelo nosso jornal com a falta de rigor da apresentação deste “espectáculo a solo”.
Nesta entrevista, Luís Fran­co-Bastos faz um balanço do que tem sido esta sua primeira digressão a solo. Desvenda, também, um pouco do que será um futuro espectáculo, mas antes disso assume a sua “culpa” pela tal falta de rigor. Cabe ao leitor a decisão de o desculpar. Nós fizemos a nossa parte.

Diário de Aveiro: Não sente remorsos por enganar as pessoas?
Luís Franco-Bastos: Não. Não me sinto nada mal. Aquilo que eu faço não é um crime. É uma patologia. Na verdade, eu sou um doente que as pessoas vêem por misericórdia. Não sou um criminoso. Apesar de termos utilizado este termo do “Roubo de Identidade”, muito poucas vezes eu me servi disto [imitação de vozes]. A única vez que foi mesmo feito isso – e que correu muito bem – foi quando eu liguei para o Estádio de Alvalade a fazer-me passar pelo Bruno de Carvalho e a secretária pensava que o presidente estava mesmo preso no elevador [na rubrica “Outra coisa”, transmitida na Antena 3]. Mas nunca mais fiz isso, e nunca o tinha feito. Nunca fui muito de fazer partidas. E isso vem um bocado na onda daquilo que tem sido o meu pensamento: nem sempre aquilo que é mais óbvio é o que resul­ta melhor. Por exemplo, quem veio assistir ao meu espectáculo de hoje e nunca tinha visto uma actuação minha de stand-up [comedy], se calhar estava à espera de uma sucessão de imitações menos elaborada. Ou num espectáculo mais focado nas imitações e menos interessado em fazer stand-up.

Este é um espectáculo de comédia pura, e não de imitações, é isso?
Sim. A minha lógica é essa. Eu não me considero um imitador. Eu considero-me um humorista que faz imitações, entre outras coisas. As imitações são uma ferramenta que eu uso, como uso o humor de observação, como conto histórias pelas quais passei, e noutras invento alguns detalhes que misturo com histórias reais. Assim, quem me vem ver, ao longo do espectáculo, não pensa muito que eu estou a fazer imitações. O meu esforço e a minha preocupação é que as imitações encaixem num fio condutor, e que tudo funcione como um todo.


Diário de Aveiro


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