Faz falta um Museu da Cidade em Aveiro? Devem ser autorizadas charretes nas ruas da cidade? Que trajes devem usar os guias turísticos? Na última sessão da Assembleia Municipal, segunda-feira à noite, os eleitos dedicaram três horas e meia a discutir os regulamentos do museu municipal e dos transportes de fruição turística. O debate acabaria por ser um pouco caótico, entre as mil e uma sugestões e outros tantos comentários que partiram das várias bancadas.
Ouviram-se, por exemplo, propostas para a criação de três novos museus: dos ovos moles (Manuel António Coimbra, PSD), do teatro e do traje (Paulo Marques, CDS). O destino a dar ao edifício da antiga estação ferroviária, desocupada desde a construção da nova gare, mereceu igualmente várias sugestões. João Barbosa, presidente da Junta de Freguesia da Vera Cruz, quer que no edifício funcione um posto de turismo. “As pessoas chegam a Aveiro de comboio e vão pedir informações às pastelarias”, chamou a atenção. Manuel António Coimbra, líder da bancada social-democrata, defende a instalação do Museu dos Ovos Moles naquele “edifício nobre” da cidade, com “venda e recriação artística” do doce tradicional de Aveiro. Pedro Pires da Rosa, do PS, avançou com uma ideia diferente: que o espaço seja utilizado por artistas locais, “como se faz por essa Europa fora”. “A Câmara estaria a fazer serviço público e de certeza que haveria procura”, afirmou.
O imóvel está, porém, destinado à colecção de arte contemporânea cedida temporariamente pelo Estado à Câmara de Aveiro, lembrou a vereadora da maioria PSD/CDS Maria da Luz Nolasco. Que informou que a autarquia pediu a prorrogação do prazo de cedência do espólio por mais “25 ou 30 anos”.
O funcionamento do Museu da Cidade motivou alguns reparos, aceites por Maria da Luz Nolasco. A autarca que tutela a pasta da cultura reconheceu “um certo vazio de conteúdo” na sede do museu municipal. “Esperemos que se consiga algo mais sólido e coeso”, disse.
Pedro Pires da Rosa questionou mesmo a necessidade desse espaço. “Havendo o Museu de Santa Joana, temos de repensar se faz falta”, salientando que a sede do museu, no Rossio, não passa de uma “mera sala de exposições” e mesmo assim como algumas falhas técnicas.
Para Manuel António Coimbra, o museu está “discreto de mais”. “Muitas vezes os passantes nem notam que estão a passar por ele”, advertiu. “As pessoas, mesmo as de Aveiro, não sabem que o museu existe”, reforçou António Neto, do BE.
Já o comunista Filipe Guerra discordou do “esvaziamento de competências” da Assembleia Municipal na definição dos horários ou da política de preços dos museus locais, de acordo com a nova versão do regulamento.
Raul Martins, do PS, entrou no debate para denunciar o “estado de degradação total” da casa que pertenceu aos avós de Eça de Queirós, em Verdemilho. “É preciso dar-lhe dignidade. Esta Câmara não fez nada em seis anos”, criticou.
Oferta reforçada
A Assembleia Municipal girou também à volta do regulamento dos transportes de fruição turística. Os pedidos de licenciamento fazem adivinhar que a oferta irá aumentar, sintetizou o vereador Pedro Ferreira, defendendo a utilidade do regulamento para “disciplinar” a actividade. Comboios turísticos (nas zonas históricas) ou charretes de tracção animal (nos parques) poderão juntar-se brevemente aos barcos moliceiros, bicicletas, autocarros panorâmicos, ‘segway’ ou ‘bolinas’ já existentes.
Pedro Pires da Rosa avisa, porém, que a Câmara “está a passar ao lado do principal filão” para a economia local, o turismo. Paulo Jesus, da mesma bancada, alertou que a oferta turística está “atrofiada à volta do Rossio”, defendendo que os circuitos sejam “alargados” a outras zonas da cidade. Desembarcar na Fonte Nova os visitantes que chegam a Aveiro de autocarro poderia ser uma solução, propôs Pires da Rosa.
Nesta fase da discussão, a principal divergência incidiu na forma escolhida pela Câmara para a fixação dos preços dos transportes turísticos. O novo regulamento prevê que o preçário seja definido anualmente por acordo dos titulares das licenças, o que configura uma prática “ilegal”, assinalou Paulo Jesus. Para Raul Martins, também socialista, trata-se da “cartelização” da actividade. Pedro Ferreira e o social-democrata Olinto Ravara negaram qualquer ilegalidade. “Não há cartelização nenhuma, devem estar a brincar”, avaliou o economista.
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