Não há nada que nos frustre mais do que ter uma ideia fixa, que de repente a vida se encarrega de desfazer. Foi o que aconteceu a Johnny Costa, que sempre teve em mente não emigrar “por nada deste mundo”. Até ao dia em que começou a pensar que, se quisesse ter filhos, uma casa e dar “uma boa vida aos meus filhos e mulher”, isso seria difícil “se teimasse em permanecer em Portugal”.
Estando o país “como está” e tendo a namorada no ventre a esperança de uma nova vida, Johnny arriscou. Para trás ficou Samel (Anadia), uma pequena aldeia bairradina, pacata e onde todos se conhecem; do outro lado do Atlântico, Johnny partia para a maior cidade da província canadense de Quebec, a segunda mais populosa do Canadá e também a segunda mais populosa cidade francófona do mundo, Montreal. “Esperando uma criança, não tivemos outra alternativa senão emigrar”, explica Johnny Costa, já que os ordenados não chegavam “para pagar aluguer de um apartamento, prestação de um carro, alimentação e agora com uma criança… não ia ser fácil”.
Johnny Costa e a namorada partiram para o Canadá fará em junho um ano. Esperavam-nos os pais dela, que muito em breve seriam avós de uma linda menina.
Em Portugal, o bairradino trabalhava em entregas de encomendas; a namorada atendia público numa ourivesaria. No Canadá, Johnny trabalha na área de paisagística, mas nesta altura está “parado”, devido ao estado do tempo.
A decisão de ir para o Canadá, deixando família, amigos e hobbies para trás, não foi fácil para Johnny Costa. “E continua a ser difícil”, confessa. Adaptar-se à língua é um dos obstáculos, já que o francês não é o seu forte. “Isso torna-me um pouco mais preso, pois não posso tratar de nada sozinho e isso faz-me sentir mais limitado.” Onde trabalha, quatro portugueses e um brasileiro formam a equipa, o que, para aprender o francês, “não ajuda nada”.
O ritmo de 12 horas de trabalho que tinha em Portugal mantém no Canadá. A diferença está no ordenado, pois o que ganhava num mês, ganha agora numa semana.
Oriana Pataco
Diário de Aveiro |